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Ouro de Schrödinger: Trump promete auditoria nas reservas dos EUA  

Ouro de Schrödinger: Trump promete auditoria nas reservas dos EUA  

Donald Trump prometeu uma auditoria nas reservas de ouro dos EUA, aquelas que estão guardadas em Fort Knox, no Kentucky. Fort Knox é um complexo militar que abriga mais da metade das reservas de ouro do país – cerca de US$ 430 bilhões, considerando o ouro na casa dos US$ 2.900/onça. 

Hipoteticamente. 

reservas ouro EUA

Se você olhou o gráfico anterior, já percebeu que o ouro está passando por uma das maiores valorizações das últimas décadas – especialmente desde a crise do subprime e crise dos PIGs. 

O ouro sempre foi associado ao conceito mais puro de moeda. Lastro verdadeiro, sem crédito. O safe haven para onde as pessoas correm quando a confiança nos governos vai pelo ralo. 

E agora temos um cenário em que Trump assume seu segundo mandato com a promessa de Make America Great Again, enquanto o mercado se pergunta se estamos na véspera de uma nova crise. 


Warren Buffett, por exemplo, está segurando mais caixa do que as reservas internacionais do Brasil – e quase tanto quanto as reservas de ouro depositadas em Fort Knox. 

Nesse contexto, questionar o lastro da economia americana faz todo sentido. 

Além disso, Trump deu poderes ampliados para Elon Musk criar o D.O.G.E. (Departamento de Eficiência Governamental), uma iniciativa para cortar custos e reduzir as despesas do governo. 

Disse, inclusive, que 20% dos ganhos de eficiência seriam divididos com os cidadãos americanos. 

Mas essa é uma conversa para outro dia. 

Agora, voltando ao ouro. 

Reservas de ouro e Trump

Por que eu disse hipoteticamente que existem 4.600 toneladas de ouro em Fort Knox? 

Simples: me diga as motivações e eu te digo os resultados. 

Essa história me lembra o experimento do Gato de Schrödinger. 

Imagine um gato dentro de uma caixa com um elemento radioativo, que pode ou não liberar veneno. Até que alguém abra a caixa, o gato está em um estado de superposição, simultaneamente vivo e morto. 

Pois bem, o mesmo vale para as reservas de ouro. Até que alguém abra a caixa e audite Fort Knox, o ouro pode ou não estar lá. 

E mesmo que não esteja, sempre há a opção conveniente de dizer que o viram brilhar. 

O secretário do Tesouro, Scott Bessent, já afirmou que Fort Knox é auditado anualmente e que suas reservas são compatíveis com as expectativas. 

Então, por que Trump levantou essa questão agora? 

Dá uma olhada nisso: 

Fonte: carta anual da Keysquare Capital Management, LLC em 31/01/2024 

Não vi ninguém comentando sobre isso, mas parei para estudar melhor o novo secretário do Tesouro. 

Na última carta que divulgou como gestor da Keysquare Capital Management, ainda na disputa eleitoral entre Trump e Biden, Bessent apostava na vitória de Trump e reforçou algo importante:  

“Em um segundo mandato seria esperado que adote políticas ao estilo de Calvin Coolidge nos roaring twenties, em vez do desfecho de Herbert Hoover”. 

Ou seja, Trump assumiu seu segundo e último mandato com uma proposta clara de crescimento econômico a qualquer custo. 

Ele quer seguir a linha de Calvin Coolidge (1923-1929), que cortou impostos, desregulamentou a economia e favoreceu os negócios, e não a de Herbert Hoover (1929-1933), que pegou uma economia superaquecida e acabou no meio da Grande Depressão. 

Se esse for o plano, o alerta deveria soar alto no mercado. 

E o padrão-ouro? 

Muita gente tem defendido a ideia de que Trump quer implementar um novo padrão-ouro nos EUA. 

Mas, sinceramente? Não estou convencido disso. 

Sim, Calvin Coolidge governou sob um sistema monetário lastreado em ouro. Mas pensa comigo: 

Se os EUA decidissem implementar um padrão-ouro hoje, isso significaria, na prática, criar reservas de ouro equivalentes à oferta monetária atual do país. 

Hoje, os EUA têm mais de US$ 21,4 trilhões de base monetária e cerca de US$ 800 bilhões em ouro (aos preços atuais). 

Ou seja, para fazer esses números convergirem, o custo em termos de crescimento econômico seria gigantesco. 

E um sistema capenga, misturando prata e crédito, já mostrou ser um desastre nos últimos dois séculos. 

Trump sabe que não vai rolar. 

Aliás, em 2015, ele já disse que, apesar de ver esse sistema com bons olhos, seria muito “difícil de fazer”. 

Mas há vantagens em fazer o mercado pensar que isso é uma possibilidade: 

✅ Enfraquece o Fed: Trump nunca escondeu que é contra a independência do banco central. Em um modelo padrão-ouro, o Fed perderia poder sobre a economia. 

✅ Enfraquece a ideia de moeda dos BRICS: No ano passado, Putin propôs uma moeda dos BRICS lastreada em ouro. Se os EUA sugerem um padrão-ouro, criam uma paridade cruzada e neutralizam parte desse movimento. 

Vale lembrar que até Ronald Reagan levantou uma comissão para estudar o padrão-ouro em 1981. O resultado? Concluíram que os EUA perderiam mais em flexibilidade monetária do que qualquer outro país. 

Aliás, essa história aconteceu quando o ouro atingiu suas máximas históricas em  1981, negociado a US$ 513/oz em Londres, contra US$ 240/oz dois anos antes. 

E o que isso tudo significa para o ouro? 

Evolução do ouro, inflação e taxa de juros em janelas de 5 anos:

evolução do ouro

Se olharmos para os últimos 55 anos, o ouro teve dois grandes ciclos de valorização antes do atual: 

📈 1980+: Reagan herdou o fim do padrão-ouro, os choques do petróleo (1973 e 1979) e os déficits da Guerra do Vietnã. 

📈 2005+: Além do boom das commodities puxado pela China, a crise do subprime gerou uma fuga para o ouro – movimento acelerado depois pela crise dos PIGS (Portugal, Itália, Grécia e Espanha). 

Agora, um alerta importante: Quem comprou ouro no pico de 1982 só recuperou valor nominal em 2006 (24 anos depois). E quem comprou em 2012 só voltou ao mesmo patamar em 2021 (9 anos depois). 

Ou seja, com o ouro já em forte alta, grandes investimentos agora podem ser perigosos. Mas, em termos reais, o comportamento do ouro hoje ainda é menor do que nos ciclos anteriores, o que levanta a hipótese de que o movimento pode continuar. 

📌 Em 2008, a solução foram juros zero e globalização.  
📌 Nos anos 1980, Volcker resolveu com juros altos por mais tempo.  
📌 E agora? 

Trump tem uma bola quadrada na mão. 

No cenário atual, eu manteria 50% da posição que gostaria de ter em ouro e realizaria lucros em novas máximas. Se for para escolher, prefiro apostar em juros mais altos nos EUA. 

Quem me conhece sabe que sou otimista com o ouro desde 2018. Mas, com o mundo freando a globalização e a inflação lembrando os anos 1980, prefiro outra aposta. 

Dólar+ 5%? Para a nossa realidade brasileira – com real se depreciando na ordem de 8% a.a. desde o plano real –, eu gosto da ideia. Especialmente para o pedaço do seu patrimônio em moeda forte. 


Ah, e quando Trump abrir a caixa de ouro e mostrar o gato dourado, espero que se lembrem desta carta.  

Felipe Paletta, analista CNPI da EQI Research 

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