Gosto de acreditar que o bom investidor analisa os dados friamente para construir cenários potenciais para o médio/longo prazo, ainda que sua assertividade seja simplesmente mediana no curto.
Nada contra os meteorologistas, que acertam em horas e erram em dias, mas acredito que seja muito mais importante estar certo no movimento primário de longo prazo do que tentar overfitar os candles diários na tela.
Pensando nisso, decidi tornar público um indicador econômico-financeiro que há tempos faz parte do meu dia a dia profissional. E que, hoje, aponta para um alto grau de confirmação de um cenário no Brasil a partir deste segundo semestre.
Gosto de chamá-lo de Índice BBB. E já adianto que, apesar do nome, ele não faz referência alguma ao famoso programa de televisão, apesar de tomar como base itens populares também presentes no cotidiano de milhões de brasileiros.
O Índice BBB significa Índice do Boleto, da Bolacha e da Bolsa. E apesar do seu nome de “varejo”, consegue abranger de forma muito técnica um objeto de análise amplo e distribuído estrategicamente por diferentes regiões do Brasil.
Na prática, o Índice BBB é capaz de sintetizar o impacto de:
- Uma bolacha mais barata que saltou para a liderança nas vendas;
- Uma maior inadimplência que preocupa lojistas de shopping centers;
- Uma operadora de telefonia que registra menor frequência de recargas;
- Uma taxa mais elevada de inadimplência condominial de locatários;
- E as liquidações de estoques mais frequentes em uma grande rede varejista.
Porém, mais importante do que esses próprios sinais – a que pouca gente costuma prestar atenção e foram capturados durante a última temporada trimestral de resultados corporativos – são os cenários que eles nos apontam.
Entre eles, o de antecipação de uma desaceleração contínua da atividade econômica no Brasil nos próximos meses, aumentando a nossa convicção de que o movimento de queda de juros no Brasil está cada vez mais próximo…
E nos ajudando a antecipar a próxima onda de valorização na Bolsa brasileira.
Porque ver o mercado de maneira holística dá vantagens e permite, entre outras ações, se posicionar antes e melhor para os movimentos maiores que costumam se consolidar ao longo de meses e até mesmo anos e décadas.
Isso significa que, se o Índice BBB mantiver agora seu alto grau de confirmação, estamos ante um cenário potencial extremamente positivo para o seu portfólio.
Nas próximas páginas, entrego o raciocínio completo, partindo dos cinco sinais.
Acompanhe.
Economia em desaceleração: Sinal 1 – O “trade-down” do Biscoito já acontece…
Um comportamento que ecoou nos resultados de muitas empresas listadas na Bolsa no último trimestre foi o chamado trade-down: quando o consumidor opta por produtos de preços mais baixos nas compras do seu dia a dia.
Isto é, em vez de deixar de consumir (o que seria um último grau de escolha, reservado, em geral, para um agravamento da situação), o consumidor promove uma substituição racional, evitando mudanças bruscas no seu estilo de vida.
Um exemplo bem prático desse fenômeno pôde ser ouvido na teleconferência dos resultados do segundo trimestre de 2025 realizada pelo Grupo Mateus (GMAT3), o maior varejista no setor de mercados/atacarejo da região Nordeste.
Segundo o presidente do grupo, Jesuíno Martins, já é possível notar um perfil de consumidor mais seletivo, focado apenas em compras de abastecimento.
Pensando nisso, o Grupo Mateus decidiu comprar para a sua rede bolachas recheadas mais baratas, de marca desconhecida no Nordeste.
O resultado? Rapidamente viram o biscoito assumir a liderança na rede. O mesmo aconteceu com marcas de leite longa vida, sabão em pó e de lava-roupa.
Esse movimento começa a se espalhar também pelo restante do Brasil, como no caso do atacadista Assaí (ASAI3), que reforçou no segundo trimestre o projeto de criar marcas próprias, como forma de manter margens maiores.
É muito parecido com o que você já deve ter visto nos mercados da rede Carrefour. A ideia das marcas próprias é ajudar o consumidor a promover uma substituição, evitando que aquela margem cheia seja perdida por completo.
Isso se observa, inclusive, no comportamento da inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), com os grupos de renda mais baixa sentindo na veia o preço elevado dos alimentos, como mostra a tabela abaixo:
Tabela 1 – Inflação por faixa de renda por grupos (em %, em 12 meses)

Com a inflação dos grupos de renda mais alta (rendimento familiar acima de R$ 21 mil/mês) cedendo e o hábito de consumo começando a mudar, é possível vislumbrar um movimento marginal descendente para os preços dos alimentos.
E isso corrobora com a nossa visão para a taxa de juros.
Além disso, outro movimento que chamou bastante atenção no trimestre foi a decisão do Grupo Mateus de acelerar o desinvestimento em linha branca, como são conhecidos aqueles eletrodomésticos de maior porte.
Sim, isso tem a ver com o seu desafio particular de capital de giro, mas também com a leitura de que, em um cenário de juros bastante altos e inadimplência aparecendo em todos os bancos, os clientes estariam com pouco capital/crédito para trocar de geladeira, por exemplo.
A situação pode ser ainda pior: com as mudanças no crédito consignado privado, muitas varejistas que se aproveitavam das financeiras para aliviar o estresse dos ciclos de contração podem não aproveitar mais esse benefício.
Na prática, isso exigiria uma cautela adicional com as chamadas empresas de consumo discricionário. O que nos leva a outra observação prática…
Economia em desaceleração: Sinal 2 – Shoppings cheios, mas lojistas de mau humor
A operadora de shopping centers Allos (ALOS3) também apresentou um crescimento de vendas nas mesmas lojas (comparativo de faturamento das lojas nos últimos 12 meses, considerando apenas aquelas já existentes no período anterior) mais tímido na região Nordeste.
Não deixa de ser um indicador relevante, ainda que seja preciso considerar os efeitos de ajuste na alíquota de ICMS na região. Também porque algum incremento em inadimplência tem sido verificado por parte dos lojistas.
Essa tendência evidencia um sofrimento duplo para eles: (i) juros elevados impactam despesas e acesso ao crédito; e (ii) a menor disponibilidade ao consumo dos seus clientes.
Com juros mais elevados, os franqueadores e lojistas sofrem com a dificuldade de encontrar crédito e as margens de lucro são consumidas facilmente pelas despesas financeiras. Em um setor tão dinâmico como o de varejo, com margens naturalmente comprimidas, digamos que todo espirro pode ser sinal de gripe.
Já do outro lado do balcão, o consumidor passa a ter uma propensão menor às compras, tomando decisões mais conscientes, o que torna as vendas mais complexas.
Vendas pioram e margens apertam. Combinação ingrata.
É por isso que gosto de olhar especialmente para a Allos pelo foco no público de média/baixa renda. Todo e qualquer sintoma começa a se manifestar aqui primeiro.
Essa é a razão, inclusive, pela qual os números reportados por Iguatemi (IGTI3; IGTI4) e Multiplan (MULT3), outras companhias do setor, ainda não refletem o mesmo comportamento.
No entanto, precisamos lembrar que apenas uma fatia pequena do faturamento da Allos vem na esteira do faturamento dos lojistas (~5%). Além disso, ainda que estes estejam mais apertados financeiramente, são pouco propensos a deixar o shopping.
Ruim com ele, pior sem.
É isso que nos faz preferir muito mais a alocação em shoppings centers do que nas varejistas em si em meio a uma desaceleração da atividade econômica – no entanto, é natural que, ao ficar mais próximo e mais relevante o movimento de queda de juros, as varejistas tenham capacidade ampliada de valorização.
Mas voltemos aos exemplos práticos que ajudam a compreender esse processo de perda de ritmo da economia brasileira. Vamos falar do cenário desafiador para o crédito.
Economia em desaceleração: Sinal 3 – Escolhendo Boleto para pagar e sem crédito na praça…
Um dos principais instrumentos de equilíbrio econômico é o crédito. Olhar para ele, no fim, é entender em que marcha o seu carro está.
Quando os juros estão baixos, a marcha está alta, ou seja, se acelerar, o carro corre. Mas, quando estamos com a marcha baixa, com os juros altos, podemos até pisar fundo no acelerador (leia-se impulsos fiscais), mas a velocidade máxima não será a mesma.
Como esse efeito se aplica, na prática?
Hoje, passamos por um período de juros altos. Esses juros altos, para as empresas, se tornam despesa financeira. À medida que ela cresce, corrói a margem de lucro.
Para contrapor essa queda, quando possível, faz-se o repasse de preço. Ou seja, embute-se no preço esse aumento das despesas com juros.
Negócios com maior poder de repasse conseguem executar melhor esse processo. Já negócios com baixo poder de repasse acabam tendo de se debruçar sobre o corte de custos, o que normalmente implica em deixar de crescer, ou até encolher a sua estrutura.
Entretanto, quando diversos aumentos de preço são realizados, eventualmente o consumidor deixa de aceitá-los, ou seja, deixa de comprar. Isso acontece no momento em que, no ciclo do crédito, a primeira e mais importante métrica começa a aparecer: a inadimplência.
Normalmente, ela surge primeiro no crédito de pessoa física, e depois bate também no crédito de pessoa jurídica, que tem mais fôlego para honrar a dívida por um período mais prolongado.
Sabendo desse aumento na fragilidade de seu cliente, o banco, como forma de proteção, passa a ser mais seletivo e mais criterioso na hora de conceder o crédito. Assim, focam apenas naqueles clientes que têm maior previsibilidade de ficar em dia com as parcelas.
Daí uma segunda métrica, de confirmação à primeira, começa a apontar no horizonte: o ritmo de concessão.
Falemos, então, sobre o status atual da inadimplência e da concessão de crédito no Brasil como um todo.
Olhando os dados consolidados de crédito pelo Banco Central, conseguimos identificar que todo o crédito livre para pessoa física no sistema – como cartão de crédito, crédito pessoal, consignado e outras fontes – acumula uma inadimplência de 6,3% em junho.
Esse mesmo dado, em novembro de 2024, era de 5,3%.
Já a concessão, que tem uma inflexão posterior à inadimplência, como expliquei no ciclo de novembro a março de 2025, continuou crescendo em ritmo acelerado. Em uma base de 12 meses, saiu de um avanço de 8,3% em novembro de 2023 para 13,5% em março deste ano.
De lá para junho, mês do último dado disponível, já caiu para 12,36%.
Para ilustrar melhor esses movimentos, o próximo gráfico retrata a variação no saldo de crédito livre de pessoa física, ante a inadimplência do crédito livre da pessoa física.
Observe que a desaceleração do saldo de crédito ocorre em paralelo à alta da inadimplência, sinalizando o enfraquecimento do ciclo de crédito.

Olhando ainda microscopicamente, no universo corporativo temos o exemplo das financeiras das varejistas.
Marcas como Riachuelo (GUAR3), Pernambucanas, Renner (LREN3) e Magazine Luiza (MGLU3), grandes varejistas do país, possuem suas operações próprias de crédito, suas financeiras.
Essas operações nasceram, originalmente, como forma de rentabilizar e expandir a concessão de crédito para que os clientes pudessem comprar os produtos da própria marca, driblando problemas comuns para o consumidor, como falta de limite de crédito no cartão do banco.
Hoje, com o passar dos anos, essas operações tornaram-se muito mais do que isso, eventualmente permitindo uso dos cartões para outras finalidades e até para a concessão de empréstimos pessoais.
Aqui, como o critério de concessão de crédito é muito menos exigente, a volatilidade e a deterioração se tornam ainda mais visíveis quando ocorrem, como mostra o gráfico abaixo.

Por fim, outro dado pouco observado e que confirma a leitura de que as pessoas estão começando a priorizar um boleto na hora de pagar é a taxa de inadimplência condominial.
Segundo a Superlógica, empresa que consolida dados de mais de 100 mil condomínios, a taxa de inadimplência condominial por locatários alcançou o patamar de 7,19%.
Isso mesmo, a cada 100 locatários, praticamente 7 não estão conseguindo pagar esse boleto.
Esse patamar é revelador, pois antes de abril deste ano o indicador oscilava dentro da faixa de 3%, o que nos ajuda a perceber um princípio de comportamento.
Uma vez que os juros e a multa pelo não pagamento podem ser considerados mais baixos em relação a outras dívidas, é natural que as pessoas escolham não pagar a dívida menor e mais barata.
Mas esse comportamento revela muito sobre o que está por vir…
Economia em desaceleração: Sinal 4 – Recarga de celular, distrato e papel
A empresa de telefonia TIM (TIMS3) registrou mais uma queda anual da base de clientes em planos pré-pagos, o que pode ser sinal de uma desaceleração em curso.
A migração de “planos pré” tem se tornado natural nos últimos anos para planos de maior valor agregado. Mas o crescimento líquido menor de clientes e a queda de 4% no ano na receita média por usuário pré-pago revela um comportamento – como a própria empresa admite – de menor frequência de recargas.
Outro setor que reforça essa leitura são as farmácias, com a rede Pague Menos (PGMN3) crescendo de forma acelerada as vendas em mesmas lojas (18% na comparação anual). E com a Raia Drogasil (RADL3), que segue expandindo lojas com perfis híbridos e populares, diante da clara busca dos consumidores por preços mais baixos.
Temos ainda o caso da Magalu, que apresentou um trimestre de dinâmica fraca de receita e margem bruta, com queda na sua divisão de e-commerce e vendas em mesmas lojas crescendo apenas 3,5% (muito abaixo do avanço de 15,6% no mesmo período do ano anterior).
Além disso, a empresa revelou ter feito liquidações de meio de ano para diminuir nível de estoque, o que acabou se refletindo em uma margem bruta abaixo das expectativas do mercado.
Ou seja, com uma dinâmica de vendas perdendo tração e exigindo liquidações, fica evidente uma maior sensibilidade a preço e um menor apetite por parte dos consumidores.
Temos também o exemplo das construtoras, que, além de enfrentarem um custo de capital elevado e a contração do crédito, já começam a registrar aumento nos cancelamentos de contratos de compra e venda de imóveis.
A Tenda (TEND3), por exemplo, apresentou um volume de distratos sobre as vendas brutas de 11,4%, ante os 9,7% registrados no primeiro trimestre do ano.
Esse comportamento já se observa desde o início de 2025 em termos nacionais, em setores distintos da Tenda (que foca em baixa renda).
A Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), por exemplo, revela um índice de distratos de 14,2% até abril para imóveis de médio/alto padrão, como mostra a ilustração abaixo, bem acima do patamar de 2024.

Digamos que esse nível é, sim, elevado, principalmente se levarmos em consideração a aprovação da Lei dos Distratos em 2018, quando se estipulou regras mais duras para esse tipo de quebra de acordo, como multas que vão de 25% a 50% do valor pago, tornando as desistências mais raras e ainda mais reveladoras.
Por fim, na última conferência de resultados da Klabin (KLBN11), a diretoria da empresa tratou da demanda por papel e embalagens, que costuma refletir os pedidos das indústrias e do varejo de bens de consumo.
Apesar de os volumes vendidos terem se mantido estáveis ou com um ligeiro crescimento em comparação aos trimestres anteriores, alguns sinais reforçam a tese de perda de ritmo da economia.
O primeiro deles foi a decisão da Klabin de suspender a produção na fábrica de Paulínia (SP), hibernando a produção de papel reciclado que ainda operava no local. A motivação foram as condições de mercado.
Em 2020, a companhia incorporou a unidade de Paulínia por meio da compra dos ativos da International Paper no Brasil e, no ano passado, algumas operações dessa planta já haviam sido descontinuadas.
Durante a conferência, a diretoria destacou o momento desafiador enfrentado pelas fabricantes de papel reciclado, com o aumento dos custos das aparas, que são resíduos de papel usados como insumo.
A geração de aparas está diretamente ligada ao nível de atividade econômica e de consumo, já que surge do descarte de embalagens. Quanto maior a renda e a atividade econômica, maior tende a ser a geração de aparas.
A redução na oferta desse insumo pode ser um indicador inicial de que o consumo começa a perder força na outra ponta.
Também foi mencionado o impacto da inflação sobre o ticket médio de compra dos clientes, principalmente no papelão ondulado.
Em contrapartida, os executivos ressaltaram a vantagem de a Klabin contar com sobrecapacidade portuária, aspecto estratégico hoje em dia.
Isso sugere que a empresa deve intensificar o direcionamento de volumes para exportação, o que reforça a percepção de demanda interna mais fraca e, ao mesmo tempo, de melhores preços no mercado externo.
Enquanto isso, nos resultados da Irani (RANI3), outra produtora de papel e embalagens, observamos uma queda considerável de volumes. A companhia decidiu priorizar margens em detrimento de volume, repassando preços ao longo do trimestre.
Durante a sua reunião de resultados, a diretoria destacou que já antecipava uma desaceleração econômica no segundo semestre e que, por isso, optou por implementar os reajustes ainda nos primeiros seis meses do ano.
Os exemplos são tantos que, naturalmente, passamos a buscar referências no último ciclo de juros nas máximas, para ajudar a compreender melhor o que devemos enfrentar a partir deste momento.
Economia em desaceleração: Sinal 5 – Se olharmos para o passado, os sinais se fortalecem
É sempre bom lembrar a máxima de que a história não se repete, mas rima, principalmente quando o assunto é o Brasil.
Quando olhamos para 2015/2016, período em que a Selic fixou sua máxima em 14,25% ao ano, e comparamos o resultado dessas mesmas empresas e setores com o que se refletiu meses depois, já encontramos sinais semelhantes aos destacados anteriormente.
Naquele momento, o mercado começou a especular um movimento de corte de juros, como de fato ocorreu entre março e abril de 2016.
Começando pelo comportamento do crédito, que entre o final de 2015 e o começo de 2016 já sinalizava uma diminuição do ritmo de crescimento da carteira de pessoa física. E pela inadimplência, que começou a alcançar os mesmos patamares para os quais avançamos agora.
O próximo gráfico ilustra bem isso. E propõe um exercício bem interessante: tente voltar até o Gráfico 1 deste mesmo relatório em busca de semelhanças. Você vai se surpreender com o resultado.

“Ah, mas a Selic só foi cair no final do ano em 2016, perto de outubro”, você pode até argumentar…
Correto, mas o custo de capital das empresas e as taxas de juros longas aceleraram o movimento de queda muito antes da materialização do corte.
Essa é a razão, inclusive, pela qual defendo que prestar atenção a esses sinais aumentam a nossa convicção de que o movimento acontecerá, não de que ele se realizará imediatamente.
Por isso, tive o trabalho de olhar os resultados das empresas mencionadas aqui nos dois primeiros trimestres de 2016, para tentar identificar se os sinais que observamos agora podem ser apenas ruído ou a esperada confirmação.
Começando com o Grupo Mateus, uma vez que a empresa ainda não era listada na época, e passando pelo Grupo Pão de Açúcar, que concentrava participação no Extra e no Assaí, o que nos ajudou a fazer a leitura de sentimento interno no setor.
Nos dois primeiros trimestres de 2016, o Assaí (uma novidade à época) apresentou crescimento expressivo.
Ele era impulsionado pela demanda por preços mais baixos, enquanto o Multivarejo registrou vendas em mesmas lojas abaixo da inflação, em uma dinâmica muito parecida com a que começa a se formar no contexto atual.
Curiosamente, no segundo trimestre de 2016, uma iniciativa comercial do Extra, a campanha “1, 2, 3 Passos da Economia”, foi detalhada como uma forma de capturar as mudanças de hábito geradas pelo cenário econômico que já era mais desafiador.
Partindo para os shopping centers, olhamos a brMalls (incorporada pela Allos nos últimos anos) apresentando no começo daquele mesmo ano um movimento similar ao que observamos agora.
Com vendas em mesmas lojas desacelerando trimestre após trimestre, principalmente no Nordeste, com inadimplência apontando para o alto.
É claro que o portfólio de brMalls lá atrás e o da Allos não se comparam, assim como a crise de 2014-2016 também não se compara com o ciclo monetário atual, mas a dinâmica micro, no que diz respeito à leitura de comportamento do consumidor, indica compatibilidade.
Entre as empresas de telefonia, a TIM apresentou um desempenho muito pior no começo de 2016, com uma queda de ~14% na base de clientes pré-pagos, como resultado da queda de confiança dos consumidores.
Você percebe as semelhanças? Todas as empresas e setores aqui destacados exibiram há quase uma década um comportamento alinhado ao que estamos observando neste primeiro semestre de 2025.
O que nos leva a um questionamento muito importante: se a desaceleração está acontecendo, o que devemos esperar para os próximos meses? E mais: como podemos nos posicionar a fim de proteger ou multiplicar o nosso patrimônio?
Economia em desaceleração: O começo do fim ou o fim do começo?
Tudo o que você viu até aqui neste relatório especial reforça a percepção de que os sinais de desaceleração da atividade econômica no Brasil se acumulam.
E isso ainda que a maior parte das empresas listadas apresentem balanços mais fortes em comparação ao ciclo de aperto da década passada e que os resultados sigam fortes, muitos deles acima das expectativas.
Por isso mesmo, não estou com uma postura negativa ante a maior parte dessas empresas. Elas apresentam balanços mais sólidos agora do que no último ciclo de aperto monetário, com margens maiores e alavancagem menor.
E esse status nos dá maior conforto para recomendar que você tenha ações no Brasil.
Não posso ignorar também que esses sinais mais amplos já identificados costumam levar à interpretação de que o ciclo de cortes de juros no Brasil esteja realmente se aproximando.
E isso, como consequência, deve permitir uma redução do custo de capital, tão importante para o apreçamento das companhias listadas, o que acaba por reforçar outra velha máxima, a de que “há males que vem para o bem”.
Olhando para o passado, vemos sinais ainda mais fortes de uma economia fragilizada, com o volume distribuído de combustíveis despencando e menor emplacamento de veículos, por exemplo.
E isso entre outros sinais que acabaram por consolidar o movimento de queda dos juros de 14,25% em 2016 para 6% em 2018, o que não acredito que possa acontecer na conjuntura atual.
Ainda assim, um movimento consistente de alívio em 2026 pode exigir ajustes importantes na sua carteira de investimentos.
E sim, minha visão é a de que entramos no começo do fim, que pode significar, ao mesmo tempo, o começo de um novo ciclo virtuoso para os ativos de risco no Brasil.
E se esses argumentos não parecem suficientes para você, vale reforçar que os Estados Unidos devem iniciar um processo de flexibilização monetária no fim do ano, o que pode aumentar o espaço para que o Banco Central brasileiro entre na onda.
Lá fora os ventos sopram na mesma direção
Esse plano de fundo exposto não é uma exclusividade do momento econômico brasileiro. Sintomas parecidos com os das nossas empresas na divulgação de seus últimos resultados também podem ser vistos no EUA.
Lá, a economia também passa por um momento de inflexão, sofrendo com os sintomas de uma política monetária mais restritiva, com as taxas de juros mais altas desde 2007, época de forte crescimento econômico que culminou em uma crise financeira no ano seguinte.
Algumas das grandes empresas, aquelas que são consideradas o termômetro da economia norte-americana, estão no varejo, como a supermercadista Walmart e a gigante Target.
Uma forma inteligente de medirmos as tendências da economia americana se dá pelo indicador da trajetória de vendas em mesmas lojas dessas grandes companhias, como no gráfico abaixo.

No gráfico, podemos ver que ambas as empresas vinham de uma base de crescimento de vendas muito forte nos últimos cinco anos, mas que regrediram à medida que os juros por lá foram subindo.
A Target, inclusive, já está com crescimento negativo desde 2023.
E vale lembrar também que as vendas em mesmas lojas é um indicador em que, como o nome diz, se comparam as vendas, ou seja, a receita, e não o volume.
Isso significa que, embutido nele, também deveria haver o repasse da inflação do período. Fica-se, assim, com a interpretação de que os resultados reais de desaceleração, tanto para a Walmart quanto para a Target, sejam ainda piores.
Outra forma, mais indireta, de confirmar essa leitura das varejistas se dá por meio da UPS, uma das maiores empresas de entregas do país, listada em Bolsa.
Através dos seus resultados, conseguimos ter uma sensibilidade de fluxo, ou seja, volume de compras, algo que não estamos aptos a enxergar nas vendas em mesmas lojas da Walmart e da Target.
O volume de envios da UPS está caindo. Com isso, podemos inferir que o volume de vendas das varejistas também esteja.

É importante contextualizar que todos esses dados foram coletados em uma janela de cinco anos, portanto, não só representam a reação imediata da economia à pandemia, como a normalização desses efeitos ao longo do tempo.
Entretanto, não podemos desvincular esse impulso econômico que tivemos durante a pandemia da constrição econômica que vivemos hoje, pois ele foi o combustível que criou o desbalanceamento que está sendo corrigido pelos bancos centrais globais nos últimos anos.
Tudo isso nos faz acreditar que o momento da inflexão está próximo, ou seja, esses sinais claros são reflexo de um momento de aperto. Mas que, em breve, caso os bancos centrais não queiram sufocar as economias, devem começar a ser aliviados, tanto aqui no Brasil quanto nos EUA.
E é aí que esses mesmos patinhos feios (ações e empresas) se tornam cisnes.
Como se posicionar agora
Notadamente, acredito que investir em ações de boas empresas no Brasil tende a ser uma das melhores alocações em um cenário de redução de juros/custo de capital.
Com esse propósito, você pode seguir uma das nossas duas carteiras recomendadas de ações aqui na EQI Research:
Carteira Buy & Hold: foco em selecionar ações de empresas com potenciais de multiplicação a médio/longo prazo;
Carteira Mais Dividendos: foco na seleção de empresas boas pagadoras de dividendos (mas que ofereçam potencial de valorização).
Mas atenção: esse cenário é também muito virtuoso para os investidores de Fundos Imobiliários e títulos de Renda Fixa, especialmente os prefixados, como temos reforçado a recomendação aqui na EQI nos últimos meses.
Talvez estejamos em uma das últimas janelas de oportunidade de alocação para os próximos anos.
É justamente isso que o Índice BBB nos mostra: quando a bolacha mais barata lidera o carrinho e o boleto aperta, os sinais da economia real já estão apontando para onde a Bolsa deve ir.
Acompanhar esses detalhes do dia a dia, e conectá-los ao mercado de capitais, é o que aumenta a convicção de que o ciclo que se inicia pode ser extremamente positivo para quem estiver bem-posicionado.