O e-commerce do Brasil atravessa um momento decisivo. Segundo análise do BTG Pactual, o país ainda mantém um ambiente mais equilibrado entre plataformas e vendedores quando comparado a mercados maduros, como os Estados Unidos. Esse cenário, no entanto, começa a mudar à medida que grandes marketplaces disputam espaço, tráfego e, principalmente, a fidelidade dos sellers.
No primeiro parágrafo do relatório, o analista Luiz Guanais destaca que a fragmentação da demanda é um fator central no e-commerce do Brasil. Diferentemente do mercado americano, nenhuma plataforma controla totalmente o tráfego ou o momento do checkout. Isso limita o poder de cobrança de taxas excessivas e mantém alternativas viáveis para quem vende online.
Um mercado ainda mais amigável aos vendedores
O relatório aponta que o e-commerce do Brasil segue sendo um ambiente em que os vendedores têm maior poder de escolha. A prática do multi-homing, ou seja, vender em várias plataformas ao mesmo tempo, é comum e funciona como um freio natural à concentração de poder.
De acordo com Luiz Guanais, “O ecossistema de e-commerce do Brasil permanece estruturalmente mais equilibrado do que o dos Estados Unidos, onde o poder das plataformas levou a uma forte compressão de margens para vendedores terceiros.” A fala reforça que, por aqui, subsídios logísticos ainda funcionam como alavanca de crescimento, e não apenas como custo.
Esse equilíbrio, porém, não significa ausência de pressão. O relatório alerta que o caminho brasileiro tende a seguir tendências globais, com maior peso da publicidade paga e dependência crescente de programas internos das plataformas.
Mercado Livre, Shopee e Amazon na disputa
Entre as plataformas, o destaque vai para o Mercado Livre (MELI; MELI34), que ampliou o frete grátis e reduziu custos logísticos para vendedores. A estratégia busca aumentar conversão e defender participação de mercado no e-commerce do Brasil, mesmo com impacto direto nas margens de curto prazo.
A Shopee segue um caminho diferente, apostando em preços baixos e subsídios agressivos. Esse modelo mantém taxas reduzidas e atrai pequenos e médios lojistas, mas depende fortemente do fôlego financeiro da empresa para se sustentar.
Já a Amazon Brasil (AMZN; AMZO34) investe pesado em logística e infraestrutura. Segundo o relatório, a empresa já aportou mais de R$ 55 bilhões no país, mas ainda não possui o domínio de demanda observado nos Estados Unidos.
Convergência existe, mas o tempo é decisivo
Para o BTG, o e-commerce do Brasil está em uma fase intermediária entre um mercado vendedor-friendly e um modelo mais comprimido. Luiz Guanais resume essa transição ao afirmar: “A questão competitiva, portanto, não é se o Brasil caminhará para o modelo global de ‘Grande Compressão’, mas qual plataforma alcançará esse equilíbrio primeiro e a que custo para o crescimento.”
O relatório conclui que o Brasil ainda oferece mais equilíbrio do que mercados maduros, mas o movimento de convergência é claro. Para investidores e empresas do setor, entender esse timing será essencial para definir estratégias e capturar valor no longo prazo.






