O Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE) divulgou ontem (24) O Índice de Clima Econômico da América Latina (ICE), o qual apresentou uma piora das expectativas econômicas para os próximos meses.
Embora a economia da América Latina esteja melhor que no auge da pandemia — ainda sem ampla campanha vacinal, a região não conseguiu se recuperar e retornar aos mesmos patamares econômicos de 2019. De acordo com dados do IBRE, o ICE deve recuar no segundo trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado e o primeiro trimestre de 2022.
Região sofre com recuo
O ICE recuou 11,7 pontos entre o 1º trimestre e o segundo trimestre de 2022. No mesmo período de 2020 — marcada pelo início da pandemia do coronavírus e quando ela passou a ser prioritária na agenda global —, o ICE caiu 46,1 pontos. Logo em seguida houve uma alta, mesmo que o clima econômico não fosse dos mais favoráveis.
Em 2021, houve uma leve recuperação. No terceiro trimestre do ano passado o índice chegou aos 100 pontos — nível considerado neutro — mas voltou a sofrer quedas nos trimestres seguintes. Para os especialistas, este é um indicativo de que as quedas na região não foram consequência apenas da pandemia.
“A queda do ICE no segundo trimestre de 2022 foi influenciada pelo resultado do Indicador de Expectativas (IE), que registra uma diferença de 21,4 pontos em relação ao trimestre anterior. O IE vinha numa trajetória de queda desde o 2.º trimestre de 2021 e no 2.º trimestre de 2022 passou para a zona desfavorável”, explica um trecho do ICE.
Segundo o ICE, os indicadores de 2022 mostram queda em comparação com 2019 — sendo a maior diferença no IE (-22 pontos) — e melhora em relação a 2020: “Na comparação com 2021, há melhora das condições correntes refletidas pelo indicador da situação atual, mas piora expressiva das expectativas captadas pelo IE, que recuou 68,8 pontos no período, sugerindo um cenário de incertezas associado a um possível impacto da Guerra na Ucrânia, além de fatores domésticos específicos de cada país”, defendeu.
Clima econômico: Resultados dos países
Conforme o ICE, o índice subiu em apenas dois países durante o período analisado: Uruguai e (14,2 pontos) e Brasil (2,1 pontos). Ainda segundo o relatório, a melhora do Brasil está associada a uma melhora na avaliação da situação atual, considerando o recuo no IE (Indicador de Expectativas) e ao ISA. No entanto, o indicador passou de 15,4 pontos para 30 pontos, um resultado distante da zona favorável de 100 pontos.
“Todos os países, exceto o Uruguai, registraram clima econômico desfavorável. No ranking do ICE do 2.º trimestre de 2022, o Brasil está em 9.º lugar”, explica o relatório, apontando ainda que Brasil, Bolívia, Colômbia e Uruguai registraram melhora, mas apenas os dois últimos estão na região favorável do ciclo econômico.
Ainda segundo o ICE, o IE avançou no Chile (15,4 pontos) e no Paraguai (24,2 pontos), mas o resultado não se sobressaiu a piora na avaliação da situação atual desses países. Uruguai e Paraguai se destacam como favoráveis em relação às expectativas, liderando o IE com 166,7 pontos e 133,3 pontos, respectivamente. O Brasil vem em terceiro lugar, com 100 pontos.
Piora no clima econômico
De uma maneira geral, a piora na avaliação das expectativas está presente em todos os países analisados pelo ICE. Com a exceção do México, Equador e o Uruguai, no 2º trimestre de 2022, todos os países experimentam piora no clima econômico em relação ao mesmo período de 2019.
“Quando se analisa os componentes do ICE, o recuo é explicado principalmente pelas expectativas. No caso do Brasil, a diferença do IE entre o 2º trimestre de 2022 e o de 2021 foi de 82,4 pontos negativos”, defende o relatório.
Previsões para o crescimento do PIB em 2022
Com algumas exceções, o clima econômico piorou entre os dois primeiros trimestres do ano, sem previsões de melhoras significativas para os próximos trimestres:
“O crescimento para 2022 foi revisto para baixo no México, Chile e Paraguai, com diferenças de 0,6 ponto percentual, 0,9 ponto percentual e 2,4 pontos percentuais, respectivamente, o que é compatível com a piora do clima econômico. A revisão para cima do PIB no Uruguai (+0,8 ponto percentual) e do Brasil (+0,1 ponto percentual) coincide com a melhora do ICE entre o 1.º e o 2.º trimestre de 2022”, explica.
Impacto da guerra na América Latina
O impacto da guerra entre a Ucrânia e Rússia foi avaliado separadamente, mas, em suma, o confronto é avaliado como ‘negativo’ e ‘neutro’ para a região. “Apenas um país considera o impacto da guerra favorável para o crescimento do PIB, quatro países avaliam que influenciará negativamente no PIB e, quatro países a percepção é de que pode ter efeito neutro”, avalia o relatório divulgado nesta terça-feira.
Em relação ao efeito da guerra na previsão do PIB, o único país onde o percentual de respostas de melhora predominou foi a Colômbia (53,3%). A alta nos preços do petróleo influencia não só os termos de troca, mas também impulsiona as exportações. Segundo os especialistas, a expectativa é de melhora no PIB do país.
Em todos os países pesquisados, notou-se um aumento da inflação em decorrência da guerra. Segundo o ICE, a adoção de políticas monetárias restritivas pode estar influenciando a revisão para baixo do PIB em alguns países.
Dentre os países pesquisados, o Paraguai foi o único que sofreu queda nas exportações, que estão diretamente associados a interrupção das exportações de carne para a Rússia com a exclusão desse país do sistema SWIFT. Além disso, a seca atrapalha a exportação de soja.
“Um país considera o impacto da guerra favorável para o aumento do PIB, quatro países identificam piora no PIB e, em outros quatro predomina o efeito neutro, mas com 3 países colocando em segundo lugar, o efeito negativo. Somente o Equador não registra percentual acima de 50% em nenhuma das opções apresentadas”, apontou.
Guerra trouxe efeito positivo para a economia?
Quando questionados se a guerra pode ser favorável às exportações, Argentina, Brasil, Colômbia, México e Uruguai avaliaram com percentuais iguais ou acima de 50%: “Para os países do Mercosul, a elevação dos preços das commodities agropecuárias e expansão das vendas com a redução da oferta da Rússia e da Ucrânia explicam o efeito positivo. Em termos agregados, melhoram as exportações.”, explica.
Em relação à balança comercial, a maioria dos países latinos avalia como neutro o efeito da guerra. No caso brasileiro, 60% dos analistas consideram que a guerra vai ter um impacto positivo na balança.
Problemas identificados na região
Segundo o ICE, o principal entrave para o crescimento dos países da América Latina é a “falta de inovação” e, em todos os países, a pontuação supera os 50 pontos. Em terceiro lugar é a corrupção — exceto para o Chile e Uruguai. A Infraestrutura inadequada vem logo em seguida em todos os países.
O quinto problema é o aumento na desigualdade de renda, exceto para o Chile e o Paraguai. O sexto problema é a falta de competitividade internacional, sendo o Chile a única exceção. Falta de mão de obra qualificada é o nono problema da região, exceto na Argentina. O décimo entrave ao crescimento é falta de capital, exceto para o Brasil, Paraguai, Peru e Uruguai.
Na maioria dos países, a pandemia já não é mais vista como um problema muito relevante, exceto no México, onde avaliaram a questão com 70 pontos. O tema ainda é considerado relevante para a Argentina e para a Bolívia.
No Brasil, os itens com menos relevância, conforme a pontuação do ICE, são: falta de capital; clima desfavorável para investidores estrangeiros; pandemia; barreira às exportações; gerenciamento da dívida; e credibilidade do Banco Central.
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