O Banco Central Europeu (BCE) divulgou nesta quinta-feira (22) a ata do BCE de maio de 2025, referente à reunião de política monetária realizada nos dias 16 e 17 de abril, revelando bastidores da decisão de cortar as taxas de juros em 25 pontos-base.
O documento revelou divergências entre os membros do Conselho, que discutiram os impactos da recente escalada das tensões comerciais com os Estados Unidos sobre a economia da zona do euro.
Apesar do consenso na decisão final, a ata do BCE de maio de 2025 indica que houve posições distintas sobre a trajetória da política monetária.
“Alguns membros indicaram que, antes do anúncio de tarifas dos EUA em 2 de abril, consideravam apropriada uma pausa nos cortes de taxa na reunião atual, preferindo aguardar a próxima rodada de projeções para maior clareza sobre as perspetivas de inflação de médio prazo”, registra o documento.
Em contraste, o texto aponta que “alguns membros notaram que poderiam ter se sentido confortáveis com um corte de 50 pontos base”. Segundo esses conselheiros, “os riscos descendentes para o crescimento haviam aumentado”, o que justificaria uma resposta mais firme do BCE.
Ata do BCE de maio de 2025: Euro surpreende como moeda de refúgio
Um dos pontos de destaque da ata do BCE de maio de 2025 é a valorização recente do euro, vista como atípica diante do cenário de instabilidade global.
De acordo com o documento, “o euro havia se fortalecido consideravelmente nas últimas semanas, já que o sentimento dos investidores se mostrou mais resiliente em relação à zona euro do que a outras economias”.
Os membros do BCE interpretaram esse movimento como resultado de uma “reavaliação ampla dos investidores sobre o risco associado às exposições aos Estados Unidos”, desafiando a expectativa tradicional de que o dólar se valorizaria em momentos de tensão geopolítica.
Desinflação ganha confiança, mas riscos permanecem
A ata do BCE de maio de 2025 também destaca um otimismo crescente com relação ao controle da inflação.
“Os dados mais recentes de inflação, incluindo os números do IHPC para fevereiro e março e os resultados recentes para a inflação de serviços, forneceram evidências adicionais de que o processo de desinflação está bem encaminhado”, afirmaram os membros.
Ainda assim, o BCE reconhece que os riscos inflacionários não foram eliminados. “Ao mesmo tempo, foi sublinhado que os riscos ascendentes não desapareceram”, alerta o texto, destacando que “os efeitos inflacionários das tarifas podem superar a pressão desinflacionária da redução da demanda externa no médio prazo”.
Incertezas sem precedentes na economia europeia
A ata caracteriza o momento atual como de “incerteza excepcional”, com consenso entre os membros de que “os riscos descendentes para o crescimento econômico haviam aumentado”.
O documento aponta que “a grande escalada nas tensões comerciais globais e incertezas associadas provavelmente reduziriam o crescimento da zona euro ao prejudicar as exportações”.
Além disso, o BCE ressalta que “mesmo se fosse conhecido com certeza onde estava o novo equilíbrio, ainda haveria grandes dinâmicas de ajuste pelo caminho”, referindo-se às transformações estruturais em curso na economia global.
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Debate sobre o papel da política fiscal alemã
O pacote fiscal anunciado pela Alemanha também entrou nas discussões. Alguns membros argumentaram que “o impacto negativo das tarifas poderia ser visto mais ou menos do mesmo tamanho que o impacto positivo da expansão fiscal na Alemanha”.
Contudo, outros conselheiros demonstraram ceticismo. “A visão foi expressa de que mesmo no médio prazo o gasto em defesa não seria um divisor de águas claro, porque não apenas se materializaria com atraso, mas provavelmente elevaria o crescimento do PIB da zona euro em no máximo algumas décimas de ponto percentual”.
Ajustes na comunicação estratégica na ata do BCE de maio de 2025
Em relação à comunicação da política monetária, a ata do BCE de maio de 2025 registra a retirada da expressão de que a política “está se tornando significativamente menos restritiva”.
Segundo o documento, “retirar a frase evitava a percepção de que o nível neutro das taxas de juros era o ponto final do ciclo atual, o que não era necessariamente o caso”.
Cenários alternativos e compromisso com a meta de inflação
Diante do ambiente de alta volatilidade, o BCE vê a necessidade de manter total flexibilidade. “Foi expressa a opinião de que para as próximas reuniões do Conselho era importante desenvolver cenários alternativos”, que considerem “o nível muito alto de incerteza prevalecente”.
O documento conclui afirmando que o Conselho “permanece determinado a assegurar que a inflação se estabilize de forma sustentável em sua meta de médio prazo de 2%”, reforçando o compromisso com uma abordagem “dependente de dados, com total opcionalidade a cada reunião”.