Um fato considerado histórico está ocorrendo na geopolítica mundial. Trata-se do rearmamento da Europa, uma quebra de paradigma se levado em conta que os países do continente preferiram, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, resolver os conflitos no campo diplomático – e até uma integração econômica (União Europeia) pode ser viabilizada. Além de fortalecer a defesa, as empresas do setor também têm se valorizado bastante aproveitando essa nova corrida armamentista.
Diante da possibilidade de um enfraquecimento do apoio dos Estados Unidos, a Europa está investindo 800 bilhões de euros (aproximadamente R$ 5,06 trilhões) para fortalecer suas forças armadas. No entanto, a corrida pelo rearmamento enfrentou um obstáculo: a capacidade limitada de produção. Para contornar essa dificuldade, algumas empresas já estão adaptando suas fábricas para a fabricação de armamentos – e a Volkswagen pode ser uma delas.
Oliver Blume, CEO do grupo, afirmou que a montada está aberta para integrar os esforços de rearmamento europeu. Questionado sobre a possibilidade de fabricar veículos militares, Blume declarou que a empresa ainda não foi procurada oficialmente, mas ressaltou que, caso surja essa oportunidade, a Volkswagen analisará os conceitos e previsões da produção.
Enquanto isso, na Alemanha, a câmara alta do parlamento alemão aprovou uma reforma nas regras de empréstimos do país, incluindo um fundo de 500 bilhões de euros (US$ 542 bilhões) destinado à renovação da infraestrutura, incluindo gastos com defesa, e ao fortalecimento da economia alemã, a maior da Europa, interrompendo décadas de austeridade econômica.
A medida, que altera a Constituição para flexibilizar o chamado “freio da dívida”, também permite, na prática, gastos ilimitados em defesa e segurança. A proposta foi aprovada com a maioria de dois terços no Bundesrat, que representa os 16 estados alemães, após passar pela câmara baixa, o Bundestag, na última terça-feira (18).
A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, ressaltou que a mudança no foco estratégico dos Estados Unidos para a região do Indo-Pacífico exige que a Europa fortaleça sua defesa. “A Rússia expandiu maciçamente sua capacidade de produção militar-industrial. Esse investimento alimenta a guerra de agressão na Ucrânia, ao mesmo tempo em que a prepara para futuros confrontos com as democracias europeias”, afirmou.
Líderes como o presidente francês, Emmanuel Macron, já classificaram a Rússia como uma “ameaça existencial” para o continente. Diante desse cenário, a Europa tem buscado formas de reforçar sua segurança, considerando até a possibilidade de precisar se defender sem o apoio dos Estados Unidos em um eventual conflito futuro.
Rearmamento europeu como impulsionador da economia
O aumento dos investimentos em defesa pode contribuir para a recuperação do crescimento econômico da zona do euro no médio prazo, afirmou Olli Rehn, membro do Banco Central Europeu (BCE). A economia do bloco tem mostrado estagnação nos últimos dois anos, enquanto a incerteza sobre uma possível guerra comercial com os Estados Unidos já começa a afetar os investimentos corporativos e a confiança dos consumidores.
Além disso, a redução do apoio do governo de Donald Trump à Ucrânia impõe desafios adicionais para a economia europeia. Rehn destacou que os seis cortes nas taxas de juros desde junho passado ofereceram uma “margem de manobra bem-vinda” para famílias e empresas.
Esse rearmamento pode ajudar as ações de empresas do setor de armas também. A alemã Reinemetall, por exemplo, que tem ações negociadas na bolsa de valores de Frankfurt sob o ticker RHM, no último mês teve uma valorização de quase 50% em suas ações, vendidas hoje a 1.331 euros. Já nos últimos seis meses, o aumento foi de aproximadamente 170%.

Em 11 de fevereiro de 2022, poucos dias antes do conflito ucraniano, os papéis da empresa valiam 95 euros. Daí em diante, o papel só subiu e de forma exponencial. Em 22 de abril daquele ano, em pleno andamento da guerra, o ativo já havia atingido 219 euros. O valor agora é o maior da série histórica da empresa Reihnmetall, iniciado em 1999.
O índice FTSE, da bolsa de Londres, no Reino Unido, registrou no começo do mês a maior alta desde que foi criado, há 40 anos. Tudo graças ao impulso das ações de empresas ligadas ao setor de defesa, listadas nesse índice. A BAE Systems registrou um aumento de aproximadamente 14,3%. Já a italiana Leonardo S.p.A. subiu 17,3%, tudo isso somente neste ano.

Nos Estados Unidos, a Lockheed Martin (ticker LMT), que tem ações negociadas na bolsa de Nova York, recebeu, em 14 de março, uma modificação contratual no valor de US$ 122,6 milhões da Força Aérea dos Estados Unidos para expandir a produção do míssil AGM-158 Joint Air-to-Surface Standoff Missile (JASSM) e do Long Range Anti-Ship Missile (LRASM).
De acordo com o Pentágono, o novo contrato prevê a aquisição de ferramentas e equipamentos de teste necessários para aumentar a capacidade de produção dos mísseis furtivos de longo alcance. Os trabalhos serão realizados em Orlando, Flórida, com previsão de conclusão até julho de 2028.
O fator Trump
A eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos e sua postura com relação à Rússia, também são fatores que pesam para os países europeus. O presidente norte-americano e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, realizaram uma negociação por telefone para discutir um possível cessar-fogo de 30 dias na guerra da Ucrânia.
A casa Branca emitiu um comunicado dizendo que os dois líderes concordaram que a Rússia pare de atacar centrais elétricas dos ucranianos e um possível cessar-fogo na região do Mar Negro.
Já o Kremlin, por sua vez, comunicou informações semelhantes, mas acrescentou que só aceitará os termos em troca da suspensão da ajuda militar, financeira e de inteligência à Ucrânia.
Porém, na sexta-feira (21), bombardeios continuaram sendo realizados na Ucrânia e na Rússia, o que mostra que as hostilidades do país não cessaram.
Além disso, Trump fez críticas aos países europeus com relação aos recursos destinados à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) – organização da qual os países da Europa são altamente dependentes do ponto de vista defensivo. Além disso, os EUA respondem por mais de 50% dos recursos da aliança militar.
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