Nana Caymmi, uma das cantoras mais emblemáticas da música brasileira, morreu nesta quinta-feira (1), aos 84 anos, no Rio de Janeiro. A artista estava internada há nove meses na Casa de Saúde São José, enfrentando complicações cardíacas que exigiram a implantação de um marcapasso no início de 2024. Seu irmão, Danilo Caymmi, confirmou o falecimento e descreveu o período como “muito doloroso”.
Filha do compositor Dorival Caymmi e da cantora Stella Maris, Nana — batizada Dinahir Tostes Caymmi — construiu uma carreira longeva e respeitada, marcada pela profundidade emocional de sua interpretação e pela escolha refinada de repertórios. Apesar de enfrentar problemas de saúde nos últimos anos, sua voz permaneceu viva em gravações recentes e registros audiovisuais.
Início precoce e trajetória de superação
A carreira de Nana começou cedo. Ainda criança, estudava piano clássico, incentivada pelos pais. Sua estreia foi ao lado do pai, na gravação de “Acalanto”, composta por Dorival especialmente para ela. Em 1960, lançou seu primeiro compacto, e pouco depois decidiu se casar e viver na Venezuela, afastando-se temporariamente da música.
De volta ao Brasil, separada, enfrentou resistência do próprio pai, mas foi acolhida pelo irmão Dori, com quem venceu o Festival Internacional da Canção em 1966, interpretando “Saveiros”. A vitória foi marcada por vaias, mas também por sua coragem diante da rejeição. Mais tarde, envolveu-se com o movimento tropicalista e gravou com Os Mutantes e Gilberto Gil, com quem teve uma breve união.
Reconhecimento tardio e permanência no coração do público
Mesmo com uma carreira sólida e artisticamente respeitada, Nana Caymmi demorou a alcançar o sucesso popular. Foi só em 1998, com a canção “Resposta ao Tempo”, tema da minissérie Hilda Furacão, que sua voz ganhou projeção nacional ampla. A faixa se tornou um símbolo de sua maturidade artística.
Ao longo das décadas, gravou com nomes como Milton Nascimento, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, João Donato e Chico Buarque. Lançou mais de 30 álbuns e foi indicada quatro vezes ao Grammy Latino, vencendo em 2004 com Para Caymmi: de Nana, Dori e Danilo.
Homenagens e despedida
O velório de Nana Caymmi ocorre nesta sexta-feira (2), no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, das 8h30 às 12h. O enterro será às 14h no Cemitério São João Batista, em Botafogo.
Sua última aparição foi no documentário Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos, onde, comovida, cantou à capela o samba-canção “Não Tem Solução”. Em 2024, mesmo com a saúde fragilizada, gravou vocais para uma faixa lançada por Renato Brás, demonstrando seu amor eterno pela música.
Nana deixa um legado imenso: sua voz, sua força e sua sensibilidade permanecem como parte essencial da história da música popular brasileira.