O acordo assinado nesta quarta-feira (15) pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e os representantes de Pequim coloca fim – pelo menos por hora – à guerra comercial entre as duas nações mais poderosas do mundo. Essa tensão, porém, entre o país asiático e o ocidental não seu deu apenas por meios tradicionais.
Desde que ressurgiu no cenário político dos EUA para disputar as prévias do partido Republicano à presidência, as redes sociais e, em específico, o Twitter, têm sido o seu meio predileto de Trump para divulgar as suas ideias.
Polêmicas
Antes de sua chegada à Casa Branca, analistas apostavam que ele adotaria um estilo mais comedido, mas não foi o que sucedeu.
Durante o período de sua campanha presidencial, ele utilizava o Twitter para atacar a sua opositora, Hillary Clinton (Democrata). Já ao chegar na Casa Branca, Trump passou a utilizar a rede social para divulgar as suas futuras ações enquanto presidente.
Desta feita, desenvolveu um novo método no que diz respeito a pautar a imprensa, que passou a acompanhar a sua conta no Twitter com afinco.
E, partir dos seus tuítes, passou a influenciar o mercado, doméstico e internacional.
Comemoração
Donald Trump utilizou hoje (16) a sua conta no Twitter para celebrar a assinatura do acordo comercial com a China:
“Um dos maiores acordos comerciais já feitos! Também é bom para a China e nosso relacionamento de longo prazo. 250 bilhões de dólares voltarão ao nosso país, e agora estamos em uma ótima posição para começar a segunda fase. Nunca houve algo assim na história dos EUA! USMCA NEXT!”, escreveu entusiasticamente o presidente Trump.
One of the greatest trade deals ever made! Also good for China and our long term relationship. 250 Billion Dollars will be coming back to our Country, and we are now in a great position for a Phase Two start. There has never been anything like this in U.S. history! USMCA NEXT!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) January 16, 2020
Contradição
Lido fora do contexto, temos a impressão de que nunca houve uma tensão político-econômica entre EUA e China. O próprio Trump já chegou a afirmar em seu perfil no Twitter, ainda que de maneira contraditória, de que não haveria uma guerra comercial com o país asiático:
“Não estamos em uma guerra comercial com a China, essa guerra foi perdida há muitos anos pelas pessoas tolas ou incompetentes que representavam os EUA. Agora, temos um déficit comercial de US $ 500 bilhões por ano, com roubo de propriedade intelectual de outros US $ 300 bilhões. Não podemos deixar isso continuar!”, declarou Trump em um tuíte postado no dia 4 de abril de 2018.
We are not in a trade war with China, that war was lost many years ago by the foolish, or incompetent, people who represented the U.S. Now we have a Trade Deficit of $500 Billion a year, with Intellectual Property Theft of another $300 Billion. We cannot let this continue!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) April 4, 2018
Reparem que ele abre o texto recusando uma guerra comercial com a China, porém, ataca os seus antecessores e no final dá a chave para uma disputa repleta de distensões que afetaria as balanças comerciais de todo o planeta.
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As tensões de um acordo comercial – agora real – entre a China e os EUA foram conduzidos por Donald Trump por meio de sua conta no Twitter.
Para alguns, isso pode parecer algo trivial ou sinal dos tempos, mas não é, pois, trata-se do mandatário da nação mais rica e poderosa – tanto em termos econômicos, quanto militar.
Cabe destacar que a confirmação do acordo foi feita pelo Twitter, no final de 2019.
“Assinarei nosso grande e abrangente Acordo Comercial da Fase Um com a China em 15 de janeiro. A cerimônia será realizada na Casa Branca. Representantes de alto nível da China estarão presentes. Mais tarde, irei a Pequim, onde as negociações começarão na Fase Dois!”, 31 de dezembro de 2019.
I will be signing our very large and comprehensive Phase One Trade Deal with China on January 15. The ceremony will take place at the White House. High level representatives of China will be present. At a later date I will be going to Beijing where talks will begin on Phase Two!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) December 31, 2019
Portanto, foram tuítes com pouco mais de 130 caracteres que permearam as bolsas de valores e o clima político global desde 2018 e sempre de maneira contraditória.
Ora recusando uma guerra comercial com a china, ora alegando perdas bilionárias em propriedade intelectual e, por fim, saudando o acordo com a República Popular da China.
Spoilers
Quando comparamos os tuítes com os pontos do acordo comercial torna-se um fato de que sim, Trump conduziu toda essa questão a partir de tuítes e nestes deu alguns spoilers do que estaria presente na tratativa comercial com a China: propriedade intelectual, transferência de tecnologia e boa vontade do governo chinês no que diz respeito a compra de produtos dos Estados Unidos.
Como podemos observar, o século XXI tem apresentados uma série de novos paradigmas (políticos, sociais e econômicos) e, entre eles, talvez o mais polêmico: a condução da mais importante disputa comercial deste século a partir das redes sociais. Não é pouca coisa.