Um vídeo de pouco mais de 6 minutos, produzido para anunciar uma “virada histórica” nas artes do País, colocou um ponto final na trajetória do Secretário especial de Cultura do presidente Jair Bolsonaro, Roberto Alvim.
As palavras alusivas ao nazismo e as semelhanças com o pronunciamento feito em 1933 por Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Adolf Hitler, causaram imediata repercussão negativa e, horas depois da publicação do vídeo, Bolsonaro confirmou a exoneração de Alvim do cargo.
O discurso de Alvim
“A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”.
O discurso de Goebbels
“A arte alemã da próxima década será heroica, será ferramenta romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”.
Mais semelhanças
Além dos trechos do pronunciamento, a estética do vídeo, a aparência do secretário, o vocabulário, o tom de voz e a trilha sonora escolhida também remeteram o discurso à propaganda nazista.
Alvim colocou, como pano de fundo, a ópera Lorengrin, composta por Wagner, um dos compositores preferidos de Hitler e, conforme detalhou a foto de capa do jornal Folha de S.Paulo neste sábado (18), posou para o vídeo ao lado da cruz missioneira, símbolo das missões jesuíticas.
Queda quase não aconteceu, diz jornal
Apesar de toda a repercussão negativa que bombardeou a mídia e as redes sociais depois do discurso, a efetiva exoneração de Alvim do cargo quase não aconteceu.
De acordo com reportagem do jornal O Estado de S.Paulo deste sábado (18), o presidente Jair Bolsonaro chegou a garantir ao ex-secretário que ele não seria desligado.
“Conversei com o presidente de manhã e ele se convenceu plenamente do que eu falei”, declarou Alvim, à reportagem, quatro horas antes de sua demissão.
Bolsonaro, por sua vez, justificou a demissão de forma simples e direta: “Um pronunciamento infeliz, ainda que tenha se desculpado, tornou insustentável a sua permanência”.
Alvim chegou a dizer que não teve ciência das semelhanças entre os discursos e que tudo não passou de uma “coincidência retórica”.
Regina Duarte é convidada
A atriz Regina Duarte foi chamada nesta sexta (17) pelo governo para assumir o cargo de secretária Nacional de Cultura.
Ela já declarou apoio abertamente a Jair Bolsonaro durante a campanha presidencial e chegou a ser convidada para participar do governo no início do mandato, mas recusou.
A atriz avisou que “pensará” sobre o assunto e que deverá responder ao convite, no máximo, até a segunda-feira (20).