Você já ouviu falar de investimento biblicamente responsável?
Recentemente, uma reportagem da Bloomberg trouxe visibilidade ao tema ao apresentar o gestor cristão americano Robert Netzly, que defende algo na linha ESG (conceito de governança ambiental, social e corporativa, que vem ganhando cada vez mais adeptos entre os investidores), mas voltado para valores cristãos.
Segundo a reportagem, ele costuma fazer uma pausa após o fechamento do mercado, reunir seus analistas e representantes de vendas e se voltar para o Livro de Romanos. E a pergunta que ele faz, enquanto ora, é algo bem inusitado para Wall Street: “que ativos Jesus compraria?”.
Netzly é dono da empresa Inspire Investing, que administra cerca de US$ 2 bilhões. Ele diz ter uma lista com 24 mil ações que podem ou não estar na carteira de quem segue o investimento biblicamente responsável.
Uma das empresas recusadas por Netzly é a Amazon. Apesar de as ações terem uma valorização de 845% em 10 anos, ele afirma que a empresa, por apoiar pautas comportamentais contrárias ao que ele classifica de valores cristãos, não pode estar entre os ativos escolhidos. “Não quero que as empresas promovam este estilo de vida”, ele defende.
Segundo a Bloomberg, entre as ações autorizadas estão a fabricante de armas Sturm Ruger & Co., a varejista de descontos Dollar Tree Inc., e a Fox Corp.
Os fundos administrados pela Inspire Investing têm siglas sugestivas: BIBL, BLES, GLRY e WWJD (abreviação de What Would Jesus Do?).
O “nicho” de mercado pode causar um estranhamento inicial, mas é bom lembrar que fé e investimentos não são temas tão desconectados assim.
Fé e investimentos
Quando há o fator religião como variável nos investimentos, é porque o investidor busca mais um elemento de apoio às suas decisões – no caso, convicção em algo transcendente.
E engana-se quem pensa que fé – do ponto de vista religioso – e investimentos não podem se misturar. A história está cheia de personagens que, de alguma maneira, fizeram grandes feitos em outras épocas, e suas conquistas foram perpetuadas primeiramente na tradição oral dos povos e, em seguida, registradas em livros sagrados que a humanidade carrega, respeita e confia. A Bíblia, por exemplo, tem muito a dizer sobre riqueza.
Inclusive, foi o personagem central da Bíblia quem mandou as pessoas calcularem antes de se lançarem em algum empreendimento para não “estacionarem” por falta de dinheiro, conforme registrado em Lucas 14: 28-30. Este é, certamente, um bom exemplo de planejamento.
Fé & Investimentos: Max Weber e a Reforma
O filósofo e sociólogo alemão Max Weber escreveu entre 1904 e 1905 a obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.
Pode-se dizer que, basicamente, ele tenta passar a ideia de que o espírito capitalista teve sua origem no protestantismo.
A afirmação dele faz muito sentido e é possível ver na prática quando se observa, por exemplo, uma aldeia no interior da Europa. Estes povoados eram construídos começando pela igreja e, em volta dela, as moradias eram erguidas.
De certa maneira, o senso de sentido destas comunidades estava intrinsecamente ligado à fé e vida religiosa. Começava-se a semana no domingo, ouvindo o sermão e orando e, nos demais dias, os habitantes voltavam à sua atividade laboral com a finalidade de crescer familiar e socialmente, sendo que este segundo elemento tem conotação de fartura e riqueza.
À medida que tal população aumentava suas posses, toda a comunidade acabava crescendo junto, pois a economia de todo o entorno era impactada. Weber foi enfático ao afirmar, no livro, que a ideologia protestante promove, de uma forma ou de outra, a construção do capitalismo.
Para o sociólogo, não apenas os interesses econômicos determinam a evolução histórica, o movimento das classes e as grandes correntes sociais, mas também influenciam, em especial os fatores psicológicos e religiosos.
A partir dessa premissa, Weber destaca que o capitalismo é o herdeiro do calvinismo e do puritanismo, ou seja, daquelas correntes originadas na Reforma Protestante na qual a salvação nunca pode vir da renúncia ao mundo, mas de uma incessante atividade moral e material.
Recompensa pelo esforço
Por se localizar no continente Sul-Americano, o Brasil tem sempre os olhos voltados para os Estados Unidos. Trata-se da maior economia do planeta, com uma classe trabalhadora vibrante e um estilo de vida que acaba sendo o objetivo de inúmeras nações.
Esse conceito de que tudo é possível, bastando ter força de vontade e disposição para o trabalho, que o Tio San exporta, tem sua origem nos pais fundadores do país que foram, basicamente, calvinistas, puritanos e outros participantes da Reforma que, por inúmeras razões, deixaram a Europa em direção ao “novo mundo”, em meados dos séculos XVI e XVII.
Esse é um dos fatores pelos quais nações que se inspiram no mercado moderno dos EUA imprimem em sua gente o jeito de fazer as coisas. Trata-se de uma forma de inspirar para o trabalho. É um jeito de dizer “faça mais, estude mais, se esforce mais e as coisas vão dar certo”.
Por isso os EUA são, desde sua fundação, chamados de terra de oportunidades, pois lá atrás os primeiros habitantes conseguiram se estabelecer e erguer suas cidades, formar família e empreender.
A torá e a questão dos juros
Os judeus são considerados um dos povos mais hábeis quando se trata de comércio e renda.
De maneira geral, as nações do oriente médio parecem saber realmente negociar. É praticamente impossível visitar o Marrocos (África) sem comprar um tapete, ou tomar tantos chás quanto forem possíveis nas vielas de Istambul (Turquia).
Outra missão impossível é passar sem comprar temperos, grãos, amêndoas, nozes e outras especiarias nos arredores de Beirute (Líbano).
Todos estes povos citados, em especial os israelenses, precisam ser realmente bons negociadores. Isso porque, da perspectiva da fé, existe uma série de restrições em relação ao mau uso do dinheiro.
A Torá, por exemplo, condena o juro e a usura. É o que diz Levítico, o livro da Lei, no capítulo 25. Existem outros trechos que corroboram essa cultura.
Desta forma, para cumprir o que determina o texto-sagrado, eles precisam comercializar dentro de uma ética cuja manipulação dessa riqueza não seja impregnada de avareza e outros sentimentos considerados ruins do ponto de vista da fé.
Vale dizer que os israelenses estão na vanguarda das tecnologias de irrigação no deserto (agro), sistemas de defesa militar (softwares), e telecomunicações.
12 mandamentos de Jesus sobre finanças
Já no Brasil, em 2019, o jornal paranaense Gazeta do Povo publicou o que seriam os 12 mandamentos de Jesus sobre finanças. Importante dizer, porém, que parte dos versos citados não foram propriamente ditos pelo rabino galileu, mas sim por seus apóstolos e até personagens do Antigo Testamento.
- 1 Fique no azul: “A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros” – Romanos 13:8.
- 2 Cuidado com empréstimos e juros abusivos: “Não seja como aqueles que, com um aperto de mãos, empenham-se com outros e se tornam fiadores de dívidas; se você não tem como pagá-las, por que correr o risco de perder até a cama em que dorme? – Provérbios 22: 26-27.
- 3 Faça um planejamento financeiro: “Qual de vocês, se quiser construir uma torre, primeiro não se assenta e calcula o preço, para ver se tem dinheiro suficiente para completá-la? Pois, se lançar o alicerce e não for capaz de terminá-la, todos os que a virem rirão dele, dizendo: ‘Este homem começou a construir e não foi capaz de terminar” – Lucas 14: 28-30.
- 4 Atenção com gastos desnecessários: Por que gastar dinheiro naquilo que não é pão e o seu trabalho árduo naquilo que não satisfaz” – Isaías 55:2.
- 5 Poupe: “Na casa do sábio há comida e azeite armazenados, mas o tolo devora tudo o que pode” – Provérbios 21:20.
- 6 Seja um investidor e multiplique seus bens: “pois a quem tem, mais será dado, e terá em grande quantidade. Mas a quem não tem, até o que tem lhe será tirado” – Mateus 25:29.
- 7 Não tenha preguiça de trabalhar: “Até quando você vai ficar deitado, preguiçoso? Quando se levantará do seu sono? Tirando uma soneca, cochilando um pouco, cruzando um pouco os braços para descansar, a sua pobreza o surpreenderá como um assaltante” – Provérbios 6:9-11.
- 8 Fuja do dinheiro fácil: “Feliz é o homem que empresta com generosidade e que com honestidade conduz os seus negócios” – Salmos 112:5.
- 9 Nada de sonegar impostos: “Deem a cada um o que lhe é devido: se imposto, imposto; se tributo, tributo; se temor, temor; se honra, honra” – Romanos 13:7.
- 10 Evite ser fiador de alguém: “O homem com pouco entendimento compromete-se ficando por fiador do seu próximo” – Provérbios 17:18.
- 11 Construa uma herança para seus filhos: “O homem de bem deixa herança aos filhos de seus filhos” – Provérbios 13:22ª
- 12 Seja um empreendedor: “Esforcem-se para ter uma vida tranquila, cuidar dos seus próprios negócios e trabalhar com as próprias mãos” – 1 Tessalonicenses 4:11.
Encontre seu Jetro
Depois de ler todo esse conteúdo e, quem sabe se inspirar, você pode se encontrar interessado em acessar o mundo dos investimentos, caso ainda esteja fora, ou fazer um reposicionamento, se já estiver dentro.
Entretanto, a recomendação para os dois tipos de pessoas é que ao invés de saírem mexendo em ativos, alocando dinheiro, apostando no mercado, talvez seja mais prudente contar com bons conselheiros em seu caminho.
O maior libertador da história de Israel, por exemplo, só foi quem foi por causa de um homem que lhe abençoava com palavras de sabedoria. Moisés tinha seu sogro Jetro para lhe dar bons conselhos.
O mau do investidor moderno é a autossuficiência que, no final das contas, se mostra como autossabotagem. Isso porque ele pauta sua tese de investimentos em conselhos de influenciadores que, em certa medida, sequer participam do mercado de capitais.
Quem quer chegar à “terra prometida” dos investimentos precisa, necessariamente, ter bons conselheiros em seu caminho.
Para saber como investir melhor, clique aqui e fale com a EQI Investimentos.
