13 Abr 2022 às 22:41 · Última atualização: 13 Abr 2022 · 6 min leitura
13 Abr 2022 às 22:41 · 6 min leitura
Última atualização: 13 Abr 2022
Reprodução
Enquanto o mundo sobe as taxas de juros, o Banco Central Europeu (BCE) mantém o ciclo expansionista. O que explica a demora em subir os juros na Europa?
A instituição publica sua decisão de política monetária nesta quinta-feira (14) e a expectativa é pela manutenção do discurso que vem sendo usado até aqui. Mas os investidores seguem atentos a pistas de quando a alta virá.
Atualmente, o mundo inteiro corre atrás dos prejuízos causados pela crise da pandemia. Inevitavelmente, houve aumento expressivo da inflação, causada sobretudo pelos auxílios monetários e pelo fechamento dos portos ao redor do planeta.
Como consequência, houve desabastecimento e falta de produtos básicos para a população.
Acompanhe o texto a seguir e entenda o que está sendo feito para minimizar os prejuízos e entenda por que o Banco Central Europeu vem a reboque desse movimento.
Confira!
Não é mais novidade para ninguém que a pandemia trouxe sérias consequências econômicas. De maneira inédita na história da humanidade, optou-se por fazer lockdowns, isolando as pessoas e fechando fábricas.
O resultado não poderia ser outro: falta de insumos básicos e uma inflação crescente. Mesmo depois de passada a pior fase da “pandemia”, os estragos permanecem e os governos tentam contê-lo.
A principal forma de frear a inflação crescente é, justamente, por meio da política monetária, com a manipulação da liquidez dos mercados.
Como os preços estão elevados, há o artifício de elevar as taxas de juros. Isso faz com que os financiamentos de longo prazo e as compras parceladas, por exemplo, sejam deixadas de lado nesse momento.
Como consequência, o consumo das famílias arrefece e a tendência é de baixa da inflação no médio e no curto prazo.
A consequência ruim desse movimento é o aumento do desemprego, pois já que a produção cai junto com o consumo, não é mais tão necessário um alto número de trabalhadores nas plantas industriais.
Reprodução/EQI
Para conter a alta da inflação, mesmo que em um movimento de apagar incêndio, os bancos centrais ao redor do mundo têm a política monetária a seu dispor. É um artifício muito útil e eficiente.
Algumas nações colocaram esse mecanismo em funcionamento tanto antes quanto possível. Esse foi o caso do Brasil.
Já outros países aguardaram um pouco mais, começando só recentemente seu movimento de elevação.
Acompanhe a seguir três exemplos importantes de alta na curva de juros básicos da economia. Confira.
Por aqui o Banco Central agiu rápido por meio das reuniões do Comitê de Política Monetária, o Copom. Após atingir seu patamar mínimo histórico de 2% ao ano, a taxa Selic iniciou seu movimento de elevação.
Isso aconteceu na reunião de março de 2021 e vem se estendendo até agora. Na verdade, nosso país teve o maior aumento de taxa de juros entre todas as nações do planeta. Subimos muito e subimos rápido.
No momento da escrita deste artigo, a Selic está em 11,75% ao ano, enquanto a inflação brasileira (IPCA) ronda a casa dos 10% ao ano.
O ciclo está se encerrando, mas as últimas notícias dão conta de que deve haver algumas altas adicionais nos próximos encontros do Copom, que podem levar os juros a até 14%.
Projeção/EQI Asset
O Federal Reserve (Fed), Banco Central dos Estados Unidos, esperou um pouco mais para elevar sua taxa básica de juros. O movimento aconteceu apenas em março de 2022, bem depois do Brasil iniciar sua elevação.
Na data, o anúncio feito foi de subir de 0,25% ao ano para 0,50%. Apesar de parecer pouco, isso tem um forte efeito sobre os mercados financeiros mundiais.
Analistas indicam que a elevação tende a continuar, ou seja, não deve parar por aí. Nas próximas reuniões saberemos qual é a disposição do Fed em aumentar sua taxa básica de juros.
Para o BTG Pactual (BPAC11), os próximos passos do Fed devem ser quatro altas de 0,50 ponto a partir de maio, mais duas altas de 0,25 até dezembro (ou seja, taxa de 2,75% a 3% em 2022). Para 2023, o banco prevê mais quatro altas de 0,25, com taxa terminal de ciclo entre 3,75% e 4%.
Cenário para alta de juros. Fonte: BTG/Bloomberg
O tradicional Banco da Inglaterra, ou BoE, como é mais conhecido, elevou sua taxa básica de juros inicialmente em dezembro de 2021. O valor saiu de 0,1% ao ano para 0,25%.
O que mais surpreendeu foi o novo aumento ocorrido em fevereiro de 2022. Novamente, houve elevação e o valor saltou de 0,25% ao ano para 0,50% ao ano.
Para se ter uma ideia da raridade desse tipo de movimentação, é a primeira vez desde dezembro de 2004 que o Banco da Inglaterra eleva duas vezes consecutivas sua taxa básica de juros.
Em reunião ocorrida em fevereiro de 2022, o Banco Central Europeu surpreendeu ao manter a sua taxa básica de juros em 0% ao ano, ou seja, completamente zerada. Esse patamar está desse jeito desde o ano de 2016.
O anúncio foi feito por intermédio da presidente do BCE, Christine Lagarde, que deu declarações em tons bastante duros, indicando que a economia não se recuperaria por meio de elevação de juros básicos.
Segundo ela, o Banco Central Europeu não tem capacidade de “desbloquear portos, encher gasodutos ou formar caminhoneiros”. A declaração faz alusão ao fato de que a economia precisa se recuperar por seus próprios meios.
Além disso, foi afirmado que as medidas serão tomadas no momento certo, rechaçando a ideia de um efeito dominó.
Tudo isso causou surpresa devido ao fato de que a inflação na zona do euro já alcançou a casa dos 5% ao ano, patamar bastante elevado para o padrão dos países que compõem o bloco.
Inflação na zona do euro por componentes. Fonte: Eurostat
Segundo Lagarde, o nível de preços encontrará seu equilíbrio por força do próprio mercado e a instituição não vê como necessário seguir os passos dos outros países que elevaram suas taxas de juros.
No entanto, foi anunciada a redução do programa de compra de ativos pelo BCE e a intenção é elevar os juros apenas quando esse movimento terminar.
No entanto, existe um fato peculiar que não existia quando do encontro de fevereiro de 2022: o conflito armado entre Rússia e Ucrânia. Muitos países europeus dependem de produtos dessas nações, como gás natural e trigo.
Com esse novo cenário, resta saber se a posição declarada anteriormente ainda se manterá.