Geopolítica é a ciência que estuda as relações de poder entre estados e territórios. E nos últimos anos, o tema tem ganhado a pauta dos noticiários mundo afora.
Dada a escalada de sua importância, a Money Week convidou Oliver Stuenkel, especialista em Relações Internacionais, para uma uma análise da geopolítica internacional da atualidade.
Luís Moran, head da EQI Research, capitaneou a conversa.
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Análise geopolítica: de volta à pauta do dia
O ano de 2022 revelou inúmeras tensões mundo afora: China contra Taiwan; Rússia x Ucrânia; Irã e o ocidente são apenas alguns exemplos de assuntos que voltaram a ocupar os noticiários internacionais.
E, sobretudo, nesse cenário, as preocupações quanto aos impactos para o comércio global se mostram latentes. Será que estamos passando por um momento em que as tensões explodiram?
No ponto de vista do especialista em Relações Internacionais, Oliver Stuenkel, a resposta é afirmativa.
“Nos últimos 30 anos não nos preocupamos muito com a geopolítica, pois tivemos um período de ausência de tensões entre os países. Vivemos um período atípico de aparente normalidade, que nos fez acreditar que tínhamos chegado no final da história, com democracias se consolidando e com as relações ficando cada vez mais previsíveis”, observa.
No entanto, de acordo com ele, entramos agora em um ‘novo normal’, com as questões geopolíticas voltando a ser relevantes. O motivo que explica essa movimentação é a volatilidade no ambiente interno de cada país.
“Muitos países passaram a tomar suas decisões olhando para a sua própria segurança nacional. Isso torna o ambiente externo menos previsível”, avalia.
Impactos da geopolítica para as empresas e investimentos
Muito dessa volatilidade se deve ao período enfrentando durante a pandemia do novo coronavírus, o que colocou em xeque a cadeia de distribuição global, levando os países a tomarem outros rumos em suas decisões de fornecimento.
As empresas deixaram de ter uma cadeia de distribuição ultra complexa, dando preferência a manter seus fornecedores mais perto geograficamente, uma vez que toda a infraestrutura de transporte global agora pode sofrer interferências, conforme ele aponta.
“Atualmente, se fala muito em trazer os processos produtivos ‘de volta para casa’ ou de deixar de depender somente de um único país, concentrando-se em países aliados, o que, ainda sim, representa riscos, sendo que quanto mais estável o cenário político interno, mais atrativo esse mercado se torna aos olhos dos demais países”, observa.
Maiores pontos de tensão geopolítica de hoje
Para Stuenkel, Rússia e China, dois países fundamentalmente insatisfeitos com a ordem mundial como ela está hoje, são focos de tensão e merecem ser acompanhados.
Ele aponta que, no último século, estabeleceu-se um sistema unipolar, no qual havia uma liderança dominante dos EUA, mas que essa ordem não se sustenta na atualidade.
“Em função da ascensão de outras potências e a chegada de um sistema multipolar, a Rússia conseguiu invadir a Ucrânia e manter seus laços com outras potências que não queriam seguir a orientação dos EUA e aderir a uma aliança anti-Rússia”, destaca.
De acordo com o especialista, esse novo sistema é o responsável por fazer com que a economia da Rússia não colapse tão cedo, uma vez que ela poderá depender da China, Índia e de várias outras potências que não impuseram sanções, apesar da pressão americana.
“Isso seria inviável há 20 anos, porque a China não teria o tamanho necessário para servir como uma espécie de ‘garantia’ contra o isolamento russo”, comenta.
Ainda de acordo Stuenkel, o Oriente Médio também é preocupante do ponto de vista de agravamento das tensões geopolíticas. Isso se deve à decisão do Irã em fornecer drones e outros armamentos à Rússia.
“Basicamente, isso inviabilizou a aprovação de um novo acordo nuclear que estava sendo negociado desde o ano passado e que traria o Irã de volta ao sistema internacional, incluindo uma produção de 1 milhão de barris de petróleo ao mercado”, ressalta.
Guerra Rússia x Ucrânia: quais são as chances de uma solução?
Para o painelista, por enquanto, o cenário mais provável é o de um conflito de longo prazo. Em parte, porque o Ocidente, apesar de apoiar a Ucrânia, não quer humilhar a Rússia a ponto de o presidente Vladimir Putin ter um incentivo para ir para um ‘tudo ou nada’.
“O que me parece é que os governos ocidentais, sobretudo o dos EUA, estão aportando armamentos para o governo ucraniano para ajudá-lo a avançar aos poucos, para evitar que a Rússia retome cidades ucranianas. Mas, isso está acontecendo em uma medida ideal para que a Rússia não seja expulsa do território, o que aumentaria o risco do uso de armas nucleares, como uma espécie de último recurso”, avalia.
O cenário por lá, apesar de ser desestabilizador, não é tão ruim assim, conforme ele explica.
“Não há hoje um interesse em derrubar o atual presidente da Rússia. O triunfo da Ucrânia também traria à tona uma série de perguntas difíceis de serem respondidas, como o que fazer com o país: se trazê-lo para dentro da União Europeia ou da OTAN”, diz.
Além disso, o clima ameno na Europa também tem segurado a pressão sobre o conflito. Para Oliver, o calor na Europa, fez com que os estoques de gás se mantivessem estáveis, impedindo uma escalada na crise energética.
“O mês de outubro foi um dos mais quentes da história da Europa. Nesse sentido, a questão meteorológica ajudou os europeus”.
Inflação é a principal causa de insatisfação dos governos ao redor do mundo
Oliver lembra ainda que o mundo está vivendo uma atual onda de governos pouco populares ao redor do mundo.
“A América Latina é um caso clássico. Tivemos agora 15 eleições e em todas elas, a oposição venceu. A pessoas estão votando contra os governos atuais, independentemente de serem de esquerda ou de direita”, comenta.
De acordo com ele, o motivo é o descontentamento com serviços públicos ruins. “Além disso, a inflação, é o principal fator que corrói a taxa de aprovação de governos. Isso deve afetar também os EUA. Se a inflação continuar elevada por lá, o mais provável é que os americanos elejam o candidato da oposição”, adverte.
O que esperar do governo Lula nas relações internacionais?
Oliver Stuenkel destaca que o mundo deixou de prestar a atenção em Lula – presidente eleito nas eleições de 2022 – quando ele deixou a presidência em 2010.
“Basicamente, no cenário internacional, o ‘capítulo Lula’ se encerrou naquele ano e agora voltou para uma nova história”, ressalta.
Isso explica o motivo da expectativa de que o crescimento econômico que houve no passado, quando o Brasil surfou a onda das commodities, seja repetido agora.
De acordo com ele, em geral, espera-se do Brasil uma maior preocupação ambiental, mas ainda é preciso ver como ficará a estabilidade política interna.
Contudo, o especialista mantém uma análise positiva para a América Latina como um todo. “Apesar de todos os problemas, a região está menos exposta a conflitos geopolíticos, o que pode ser uma vantagem para os investidores”, destaca.
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