A Bluebell Capital, um fundo ativista com cerca de US$ 250 milhões em ativos, está acusando a maior gestora do mundo, a americana BlackRock, de praticar “hipocrisia ESG”.
A Bluebell, com sede em Londres e com uma pequena participação na BlackRock, vem afirmando que existe uma lacuna entre o que BlackRock diz consistentemente sobre ESG e o que eles realmente fazem. O sócio e co-fundador do fundo, Giuseppe Bivona, pede, inclusive, a renúncia de Larry Fink, CEO da BlackRock.
A sigla ESG se refere aos conceitos de governança ambiental, social e corporativa.
Fink tornou-se um defensor declarado do “capitalismo das partes interessadas”.
Tal modelo de capitalismo – também conhecido como capitalismo de stakeholders – defende que as empresas busquem criar valor a longo prazo, levando em consideração as necessidades de todas as partes interessadas e da sociedade em geral.
No entanto, afirma Bivona, a BlackRock vive um “risco reputacional” sob o comando de Larry Fink.
A BlackRock se defendeu alegando que, nos últimos 18 meses, a Bluebell realizou uma série de campanhas para promover sua agenda de clima e governança, mas que não recebeu apoio da BlackRock porque elas não representavam “o melhor interesse econômico dos clientes”.
“Vemos a BlackRock endossando uma série de más práticas de uma perspectiva de governança, social e ambiental que não está realmente em sintonia com o que eles dizem”, disse Bivona à CNBC.
Ele cita, por exemplo, o compromisso da BlackRock de abandonar os investimentos em carvão térmico. Só que, no entanto, a empresa continua a ser o principal acionista de empresas como Glencore, Exxaro, Peabody e Whitehaven. Ou seja, ainda há injeção de bilhões de dólares em novos projetos de carvão e grandes empresas de petróleo e gás.
“Quando o preço do carvão estava em torno de US$ 76 por tonelada, a BlackRock estava falando essencialmente em desinvestir. Agora que o preço do carvão é de US$ 380 por tonelada, eles estão falando sobre propriedade responsável. Acho que há uma alta correlação entre a estratégia da BlackRock para o carvão e o preço do carvão”, ataca Bivona.
O que é o ESG?
A sigla ESG refere-se aos termos Environmental (ambiente), Social (social) e Governance (governança).
De acordo com a agenda, essas três temáticas devem nortear as ações das empresas, uma vez que elas têm enorme responsabilidade na preservação do meio ambiente, devem proporcionar impactos positivos na sociedade e contar com boas práticas de gestão.
Embora o assunto tenha ganhado maior relevância nos últimos dois anos (2020 para cá), sua origem remete-se a 2004, ano em que o Banco Mundial, o Pacto Global das Nações Unidas (ONU) e organizações financeiras de nove países lançaram um documento denominado “Who Care Wins, 2004-08” (Ganha Quem Se Importa, 2004-2008).
O documento foi publicado pelo International Finance Corporation – IFC e um dos trechos destaca:
“Para apoiar o crescimento dos fluxos de capital sustentáveis, deve-se buscar influenciar, apoiar a permitir que as partes interessadas do mercado de capitais integrem melhor os fatores ambientais, sociais e de governança (ESG) nos processos de alocação de capital”.
A quantas anda a discussão ESG no Brasil?
Para Elias Wiggers, assessor de wealth management da EQI Investimentos, o ESG no Brasil ainda é incipiente, na comparação com o Hemisfério Norte, especificamente no continente Europeu e em países como Canadá e EUA, regiões onde as “conversas sobre o tema estão mais avançadas”.
“Embora seja possível ver avanços em muitos setores, não me parece que o tema esteja muito no radar dos investidores brasileiros. O que vemos é uma demanda de um nicho mais específico, em geral, de pessoas mais jovens. Mas, ainda temos um perfil médio majoritário de investidores de 50 anos +, que investem no longo prazo”, analisa.
O estudo “Retrato da Sustentabilidade no Mercado de Capitais”, realizado pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) questionou gestoras, bancos, corretoras, distribuidoras, entre outros players, sobre como o ESG é visto e tratado no mercado de capitais brasileiro.
O panorama reconheceu cinco padrões de comportamento com base no posicionamento e compreensão do tema: desconfiado (4,2%), distante (35,5%), iniciado (32,1%), emergente (21,5%), engajado (6,8%).
Aproximadamente 85% das casas classificam a importância das práticas ESG com notas de 7 a 10 (sendo 10 a mais alta).
Mas o “G” de “governança” é o aspecto mais observado. “Isso reflete o fato de que, historicamente, o mercado está mais acostumado a relacionar a gestão das empresas ao seu desempenho financeiro, enquanto aspectos ambientais e sociais passaram a ser contemplados mais recentemente”, analisa a entidade.
Tem interesse na BlackRock e em ESG? Fale com um assessor da EQI.