Partidos que fazem oposição ao governo Jair Bolsonaro decidiram nessa terça-feira (27) convocar atos em defesa da democracia e contra o autoritarismo, sob o lema “Ditadura Nunca Mais”, para o dia 18 de março, três dias depois dos atos convocados, em vídeos pelo Whatsapp, pelo próprio presidente, em seu favor e contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, que renderam críticas tanto da direita, quanto da esquerda.
A decisão veio após reuniões das nove centrais sindicais e dos movimentos Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, que reúnem centenas de movimentos sociais, e que se solidificaram durante o governo-tampão de Michel Temer.
A data, porém, não será o único momento de protesto da oposição. Há manifestações agendadas para o domingo (8), que marca o Dia Internacional da Mulher, quando mulheres contra Bolsonaro pretendem passar seu recado; e no dia 14 de março, véspera dos protestos a favor do presidente, quando marca o aniversário de dois anos do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Os movimentos e a oposição, entretanto, tentarão concentrar os esforços no dia 18, uma quarta-feira. Nessa data, as entidades estudantis já haviam programado atos em defesa da educação e dos serviços públicos.
Pautas unificadas e ataques à imprensa
Segundo Guilherme Boulos, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e da Frente Povo Sem Medo, disse ao Estadão, a ideia é juntar as duas pautas: “o mote vai ser ‘Ditadura Nunca Mais’ porque está cada vez mais claro que o Bolsonaro tem uma sanha de ditador. Ele quer construir um caminho autoritário para o Brasil. Não aceita oposição, não aceita contraponto, não aceita imprensa”.
Na rotineira live em redes sociais de quinta-feira, o presidente da República, mais uma vez, atacou a imprensa. Disse que vai usar o seu cargo para influenciar o empresariado sobre onde anunciar ou não: “vou ter uma reunião na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), agora no comecinho do mês que vem, vou falar com o empresariado lá e esse assunto vai voltar à tona. O que eu vou falar para o empresariado lá? Entre outros assuntos, obviamente, que esses jornais, Folha de São Paulo, essas revistas, revista Época, não anunciem lá, porque o jornal só mente o tempo todo, trabalha contra o governo. E se o governo der errado toda a economia do Brasil vai sofrer. Vocês não podem dar dinheiro para uma mídia que mente o tempo todo. Tem boas revistas no Brasil, tem bons jornais no Brasil? Tem. Vai em cima dessa imprensa que é isenta e fala a verdade”.
Ele não especificou quais as mentiras esses veículos contaram. E aproveitou para alfinetar a Rede Globo, que eventualmente tem criticado seu governo: “eu, por exemplo, parei de dar entrevista aqui na frente. Por quê? Deturpam tudo. Se bem que nós gravamos, divulgamos, isso é bom. Mas deturpam tudo, o tempo todo busca aí confusão. A mídia não faz – como regra, não são todas – uma matéria séria mostrando a verdade do que está acontecendo. Está pra ser inaugurada uma nova TV, a CNN Brasil. Pelo o que eu estou sabendo, vai ser uma rede de televisão diferente da Globo, pelo que eu estou sabendo. Torço para que isso seja real, para que a gente possa destinar aqui, fazer com que os nossos ministros vão dar entrevista para essa televisão”.
O pedido de impeachment e a bandeira “fora, Bolsonaro!”, sugeridos por algumas lideranças, foram rejeitados pelas entidades que entendem não haver no momento clima político para defender o afastamento do presidente, apesar da compreensão de que ele seguidamente tem cometido crimes de responsabilidade, como no caso da ofensa sexual à jornalista da Folha Patrícia Campos Mello e do compartilhamento dos vídeos para atos contra o Congresso e o Supremo.
“Que tem motivos, tem. O Bolsonaro tem dado motivos todos os dias, mas a natureza do impeachment é política, tanto que quem julga é o Congresso e não o Judiciário. Não podemos ser irresponsáveis”, disse o secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto.
“Parece que este ato deles não vai ser tudo isso que estão falando”, disse Tatto. Segundo ele, ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu que o PT vá para as ruas: “temos que ir para a rua conversar com o povo”. Para o ex-presidente, o PT deve se concentrar em discutir os problemas da “vida real” das pessoas, como a precarização dos empregos e a perda de direitos sociais.
Forças compostas
Para o protesto do dia 18, entidades como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Associação Brasileira de Imprensa (ABI) devem se juntar a representantes de partidos de esquerda (PT, PDT, PSB, PCdoB e PSOL). Uma reunião está marcada para terça-feira (3), em Brasília.
Segundo o Estadão, “mais amplo do que as articulações de esquerda, o fórum Direitos Já, que reúne representantes de 16 partidos – vários deles de centro e centro-direita – vai se reunir um dia depois dos atos pró-Bolsonaro para avaliar a situação. Por enquanto o Direitos Já, que tem entre seus incentivadores o governador do Maranhão, Flavio Dino, tem um evento marcado para o dia 30, em São Luís”.
“Vamos realizar um diálogo com as entidades da sociedade e partidos para avaliar os próximos passos diante da atitude do presidente de jogar a população contra o Congresso”, disse o coordenador do Direitos Já, o sociólogo Fernando Guimarães.
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