Como viver de renda?
Compartilhar no LinkedinCompartilhar no FacebookCompartilhar no TelegramCompartilhar no TwitterCompartilhar no WhatsApp
Compartilhar
Home
/Educação Financeira
Notícias
Mulheres investidoras: o que podemos aprender com elas

Mulheres investidoras: o que podemos aprender com elas

Na semana da Mulher, a presença delas no mercado financeiro volta à pauta e reacende discussões sobre o perfil das mulheres investidoras

O público feminimo alcançou 25% do universo de pessoas físicas na B3 em 2022, se mantendo estável em relação a 2021. No entanto, representa uma queda se comparado aos 28% registrados em 2020. 

Em especial, os dados desses últimos três anos – que coincidem com o período de pandemia – podem reforçar um comportamento diferenciado das mulheres quanto aos investimentos. 

Mais cautelosas, elas privilegiam a proteção de patrimônio em detrimento ao risco da renda variável.

Embora a representatividade no cenário financeiro ainda seja baixa em comparação a dos homens, as mulheres se mostram confiantes de que os números atuais apontam um mercado potencial a ser conquistado. 

Proporção de mulheres investidoras se mantém estável

De acordo com o relatório da B3, que traça o perfil dos investidores na Bolsa no 3º trimestre de 2022, o perfil de gênero dos investidores em equities mudou um pouco ao longo dos anos, apesar da entrada de mulheres nos últimos períodos. 

A proporção entre homens e mulheres se mantém praticamente constante ao longo dos anos. No gráfico abaixo, é possível ver a divisão em azul, sendo representada pelos homens, e em amarelo, pelas mulheres. 

Mulheres investidoras: proteção x rentabilidade 

Embora a participação feminina na Bolsa brasileira tenha se mantido estável nos últimos anos, com relação aos investimentos em renda variável, o perfil psicológico feminino deve ser analisado como um fator de peso para a aceitação da tomada de risco, aponta a analista de Fundos Imobiliários da EQI Research, Carol Borges.

“O investimento na Bolsa de Valores é um dos mais arriscados que a gente possui, no qual se tem oscilação do patrimônio. E as mulheres costumam buscar a proteção antes da rentabilização desse patrimônio”, pondera.  

Para ela, a participação das mulheres acaba sendo ainda pequena, mas não por falta de conhecimento, mas sim por uma questão de cautela de maneira geral. 

“As mulheres pensam mais antes de tomar atitudes e, geralmente, agem menos, no sentido de evitar compras e vendas muito recorrentes. Elas, às vezes, demoram um pouco mais para tomar uma decisão, mas a tomam por um prazo um pouco maior”, analisa. 

A analista considera que esse perfil ficou ainda mais evidente no período de instabilidade gerado pela pandemia da Covid-19, época na qual muita gente perdeu sua fonte de renda ou a teve diminuída. 

“Quem tinha reservas acumuladas conseguiu passar um pouco melhor por esse momento. O período também mostrou essa ancoragem de que a mulher investidora, que tinha ativos em renda fixa e um dinheiro guardado para uma eventual emergência, conseguiu atingir o objetivo de proteger patrimônio e a sua família”, observa Carol. 

Mulheres investidoras preferem Fundos Imobiliários

Embora cautelosas, as mulheres não são avessas ao risco. Mas, sim, buscam investimentos com características mais tangíveis, de certo modo, assim como os Fundos Imobiliários.

De fato, as mulheres diversificaram suas carteiras de investimento em renda variável ao longo do tempo. Em 2016, 75% das mulheres possuíam ações, hoje esse número caiu para 38%, com aumento em Fundos Imobiliários e BDRs.

Para Carol Borges, a preferência indica a percepção de que nos Fundos Imobiliários, existe a ancoragem de estar investindo em um imóvel, ou seja, em algo mais concreto, na qual se tem a ‘objetificação’ do investimento. 

“Pelo fato das mulheres serem mais cautelosas, a porta de entrada para elas acaba sendo os FIIs. Na minha opinião, isso passa um pouco por questão psicológica das mulheres serem mais avessas ao risco do que os homens. Mas, é claro que existem todos os perfis de investidoras, pois temos visto muitas mulheres buscando outros tipos de ativos”, complementa. 

Mulheres investidoras: primeiro investimento é maior 

Se por um lado o número de investidores homens que entram em equities, historicamente, é maior do que o número de mulheres. Por outro, as mulheres apresentam um valor mediano do primeiro investimento maior do que os homens. 

Dentre os investidores que entraram na renda variável em setembro de 2022, considerando homens e mulheres, a maioria teve seu primeiro investimento em até R$ 200,00, conforme aponta o relatório da B3. 

Contudo, as mulheres apresentam maior concentração em faixas de maiores valores. O que pode reforçar a tese de que as mulheres estão buscando mais conhecimento sobre o mercado e, portanto, estão mais seguras para investir, conforme avalia Julia Wazlawick, influencer de finanças e colunista do Portal EuQueroInvestir.  

“O mercado financeiro é pra todos. Independente do gênero, cor de pele, classe social. Dinheiro é uma coisa que todo mundo lida e tem que saber pelo menos o mínimo. É bom que essa percepção tenha se difundido”, avalia. 

Ela se mostra otimista com o futuro à frente. “Hoje vemos diversos influencers de finanças o que, antigamente, era muito mais representado por homens do que por mulheres. Vejo várias novas influencers de finanças que vem me seguir. O assunto está se tornando muito conversado pelas mulheres”, comemora. 

“Mercado financeiro não é lugar de mulher”

Embora ainda seja uma jovem na casa dos 20 anos, Júlia já percebe grandes avanços no cenário do mercado de trabalho como um todo, em especial no mundo financeiro. 

“Temos visto uma mudança muito grande no que era considerada uma ‘profissão de homem’ até pouco tempo atrás. Tive oportunidade de entrevistar mulheres que começaram lá atrás, quando não tinha uma única menina na faculdade de Administração ou Economia. 

Hoje, vemos que esse número é bem maior”, aponta.

No entanto, ela ressalva que ainda existe um longo caminho a ser trilhado. “A divisão ainda não é igualitária, pois a maioria ainda é composta por homens e de classe social alta. Mas, já temos conseguido quebrar a percepção de que não há uma ‘profissão de homem’ e uma ‘profissão de mulher’”, acredita a influencer.

Segundo ela, mesmo diante da maior representatividade na formação acadêmica, as mulheres ainda podem enfrentar barreiras psicológicas como entraves ao ingresso no mercado de trabalho. 

“As mulheres estão indo atrás, mas é claro que a gente ainda tem alguns desafios. Existe na psicologia humana a questão de que semelhante acaba preferindo semelhante, então, alguns homens ainda tendem a contratar mais homens do que mulheres”, pondera. 

Por outro lado, em sua avaliação, a sociedade está buscando a diversidade como forma de se preparar para as novas perspectivas do mundo do trabalho.

“Estudos comprovam que a diversidade nas empresas é essencial para os negócios prosperarem, pois se consegue ver os problemas de diversos ângulos”, reitera.

Conquista por competência

Se ainda há desafios e muito trabalho pela frente, vale a pena olhar para o passado para perceber o valor do caminho andado.

“Minha trajetória de trabalho sempre foi em ambientes bastante masculinos. Comecei na engenharia, trabalhei offshore, depois ingressei no mercado financeiro. Na maioria das vezes, 80% ou até mais dos meus colegas de trabalho eram homens”, recorda a analista de FIIs, Carol Borges. 

Para ela, a competência, independentemente de gênero, deve prevalecer cada vez mais.

“Temos conseguido, sim, conquistar nossos espaços e a confiança, mas isso sempre vem com trabalho duro, com competência e estudo. Não vou dizer que é fácil, mas eu sempre tive oportunidades, não posso reclamar nesse sentido”, comenta.

A analista acredita que é preciso reconhecer as adversidades para que seja possível traçar novos horizontes. 

“Percebemos ainda que, às vezes, nossa capacidade intelectual é colocada em xeque. É claro que isso existe, não podemos negligenciar, mas também vejo que nós, mulheres, com bastante competência e esforço, estamos conseguindo conquistar o nosso espaço nesse mercado de trabalho ainda dominado pelos homens”, avalia. 

Otimista, a profissional acredita que as dificuldades de hoje são fundamentais para transformar o cenário para as gerações futuras. 

“Quem sabe, nossa presença possa mostrar para as outras mulheres que elas também podem estar em cargos, posições ou áreas de trabalho que, em algum momento, foram ditas como extremamente masculinas”, finaliza.