O surto do Covid-19 segue transformando o ambiente econômico. Empresas estrangeiras que atuam na China já preveem grandes perdas de receita, especialmente no primeiro semestre do ano, com alguns planos de diminuir suas metas de negócios, disseram associações comerciais na quinta-feira (27) à agência de notícias AFP.
Quase metade das quase 580 empresas pesquisadas pelas câmaras de comércio da Alemanha e da União Europeia em fevereiro espera uma queda de dois dígitos na receita nos primeiros seis meses de 2020.
Os motivos são queda na demanda por produtos e serviços, escassez de pessoal e uma incapacidade de cumprir os prazos de entrega devido a interrupções na logística. Metade dos entrevistados planejava reduzir também suas metas anuais de negócios.
Pesquisa e disseminação
Uma pesquisa da Câmara de Comércio Americana na China, também divulgada na quinta-feira, disse que quase metade de seus 169 entrevistados espera que as receitas na China caiam este ano se os negócios não voltarem ao normal antes do final de abril. Cerca de 10% disseram que perdem pelo menos ¥ 500 mil (US$ 71.000) por dia.
O problema é que não há previsão ainda de melhora, embora especialistas chineses tenham afirmado que o pico da epidemia se deu no começo de fevereiro e que até o final de março o Covid-19 estará amplamente controlado.
Até as 11h do dia 28 de fevereiro, segundo dados do Centro de Ciência e Engenharia de Sistemas da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, Estados Unidos, em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), eram 83.774 casos em todo o mundo, com 2.867 mortes.
Embora o vírus pareça ter sido controlado na China continental, onde tudo começou, fora do país ele vem se alastrando preocupantemente. Em países como a Coreia do Sul, com 2.337 casos confirmados e 13 mortes; Itália, cujo surto já chegou a 655 casos e 17 mortos associadas ao vírus; e o Irã, com 338 casos, incluindo o vice-presidente, e 34 mortes; a onda de temor se alastra a ponto das autoridades fecharem escolas, fábricas, centros de lazer e comércio.
Já são mais de 40 países com casos confirmados, incluindo o Brasil.
Lenta retomada
A China viu uma lenta retomada dos negócios após um feriado prolongado do Ano Novo Lunar no final de janeiro, com empresas suspendendo as operações para impedir uma maior disseminação do coronavírus mortal. Escolas também fecharam. Dezenas de milhões de pessoas foram colocadas em quarentena, isoladas em suas próprias residências.
Mas mesmo que Pequim incentive as empresas nas áreas menos afetadas a retomar o trabalho, as câmaras da UE e da Alemanha disseram que as empresas estrangeiras enfrentam problemas como “exigências de quarentena altamente restritivas” e “pré-condições extensas” para reiniciar as operações. Não há, por ora, perspectivas de melhora e retorno de atividades normais
“Esta crise vai desafiar a maneira como fazemos negócios no futuro”, disse Joerg Wuttke, presidente da Câmara da UE na China. A epidemia levará as empresas a considerar a diversificação tanto na China quanto na região, disse ele, embora “deixar a China não seja uma opção”, dada sua contribuição para o crescimento global.
A China tem 18,69% de participação no PIB mundial. Os EUA têm 15,16% e o Brasil, flutuando entre ser a oitava e a nona economia, 2,49%.
Zona de guerra
“As empresas na província central de Hubei, que estão fechadas desde o final de janeiro, enfrentam uma situação particularmente sombria, sem esperança de voltar ao normal nas próximas quatro semanas”, disse Wuttke.
Empresas europeias ainda maiores estão “lutando para lidar com as restrições impostas, por Hubei ainda ser realmente uma zona de guerra contra o vírus”, afirmou. Mais de 50% dos escritórios de empresas britânicas permanecem fechados.
As autoridades chinesas disseram na quinta-feira (27) que emitiram ¥ 953 bilhões (algo em torno de US$ 135,8 bilhões) em empréstimos a empresas que trabalham para conter o surto de vírus.






