O nacionalista Karol Nawrocki, apoiado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, venceu a disputa pela presidência da Polônia, em um resultado que pode redefinir a política nacional e internacional do país.
A vitória foi apertada: Nawrocki, candidato do partido de oposição Lei e Justiça (PiS), obteve 50,89% dos votos, superando o atual prefeito de Varsóvia, Rafał Trzaskowski, que conquistou 49,11%. A eleição marca um novo capítulo após o PiS perder a maioria parlamentar em 2023.
Mudança na liderança e impacto no governo pró-UE
Karol Nawrocki substituirá o também conservador Andrzej Duda, que, em 2020, venceu Trzaskowski por margem igualmente estreita. Nawrocki inicia agora um mandato de cinco anos, com possibilidade de reeleição. Apesar de o presidente polonês ter um papel mais cerimonial, ele detém um poder de veto fundamental sobre legislações, influência que Duda já exerceu para bloquear reformas do atual primeiro-ministro, Donald Tusk.
O governo de Tusk, pró-União Europeia, vinha se esforçando para reparar as relações com Bruxelas, culminando no desbloqueio de € 137 bilhões em fundos da UE. A vitória de Nawrocki, com um perfil eurocético, ameaça interromper essa aproximação e gerar novos atritos com a Comissão Europeia.
Europa e EUA atentos aos desdobramentos
A eleição polonesa foi acompanhada de perto por lideranças europeias, Washington e países vizinhos como Rússia e Ucrânia. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, reagiu: “Estou confiante de que a UE continuará sua excelente cooperação com a Polônia. Somos todos mais fortes juntos em nossa comunidade de paz, democracia e valores”.
A Polônia, até agora um dos maiores apoiadores da Ucrânia contra a invasão russa, vinha oferecendo suporte logístico e de segurança a Kiev. Entretanto, Nawrocki sinalizou uma mudança de postura, criticando o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e descartando o apoio à entrada da Ucrânia na OTAN — um movimento que pode afetar a coesão da aliança militar ocidental.
Apoio de Trump e sinal para o populismo na Europa
A vitória de Nawrocki representa mais que uma mudança doméstica; é um símbolo do avanço do populismo de direita na Europa. O segundo turno das eleições polonesas foi interpretado como um teste para esse movimento, que ganhou novo fôlego após a vitória do republicano MAGA, liderado por Trump, nos Estados Unidos. A vitória rompeu a sequência de sucessos liberais recentes, como os verificados na Romênia e em Portugal.
Durante a Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), realizada na Polônia, a secretária de Segurança Interna dos EUA, Kristi Noem, fez um apelo direto aos eleitores: “Donald Trump é um líder forte para nós, mas vocês têm a oportunidade de ter um líder tão forte quanto Karol, se o tornarem o líder deste país”. Ela ainda destacou: “Vocês podem ser aquela cidade brilhante no topo de uma colina que o resto da Europa e do mundo observarão”.
Relações com Washington e investimentos em defesa
Apesar do apoio de Trump, a Polônia mantém boas relações com os EUA, especialmente na área de segurança. O país é um dos poucos que superam a meta de gastos com defesa da OTAN, investindo 4,12% do PIB em 2024 — mais que os 3,38% dos próprios Estados Unidos. Esse investimento se reflete na compra de equipamentos militares norte-americanos, como jatos F-35 e tanques Abrams.
Com Nawrocki na presidência, a Polônia pode reforçar ainda mais sua parceria estratégica com Washington, ao mesmo tempo em que reconfigura sua posição frente à União Europeia e à guerra na Ucrânia. A vitória nacionalista, com respaldo explícito de Trump, pode marcar um ponto de inflexão nas alianças políticas europeias e no equilíbrio de forças no continente.